A fúria pela poupança continua. Dizem que até somos mais papistas do que o Papa. Ou, neste caso em particular, do que os Papas da troika que efectivamente manda na aldeia. Mas não se percebe esta necessidade permanente em se querer mostrar mais do que aquilo que nos é exigido. Nem a razão de tanta celeuma ou notícia. São os ministérios que cortam nas mordomias, nos assessores e derivados e nos salários; são as privatizações e as extinções de vários organismos públicos; são os impostos extraordinários. De tanto afogar o que se devia e o que não se devia, fica-se com a sensação de que caminhamos todos para a extinção por asfixia e que isso transmite uma espécie de prazer. Pena que tanta publicidade de pouco ou nada sirva porque ou isto começa a ver e a sentir melhorias evidentes ou isto não tem mesmo volta a dar. E muito menos quando todos percebemos, que atrair holofotes para a cabeça não passa de mais um lamentável equívoco que não traz, ainda por cima, nada de original.
É simpático ver como o representante institucional muda de nome e de figura em menos de 24 horas. Por certo, a vontade de aparecer por tudo e por nada nos meios de comunicação social, cria este género de desconforto, talvez com o objectivo claro de ver se não se nota. Não havia, quanto a mim, nenhuma necessidade de se cair nesta trapalhada institucional insignificante, mas de tanto tagarelar sobre tudo e sobre nada, o Sr. Rodrigues do CDS, afinal é de carne e osso. O que pressupõe, claro está, e de quando em vez, que também dê uns valentes tiros nos pés, como esta situação tão bem demonstra. Nada como um duro revés para lhe refrear os ânimos. A humildade ficar-lhe-ia muito bem.
O homem mantém o seu registo insuportável. No fundo, não é mais do que um mal-educado que não se corrige e que vive de atazanar a cabeça dos outros, à custa de jogos e joguinhos que só ele sabe arquitectar e da motivação extra que ele gosta de incutir. Se vivesse mais preocupado com o rectângulo do jogo, certamente sentiria que o futebol-jogo é mais importante do que esta palhaçada permanente e sem graça nenhuma. Mas desde que o futebol se transformou numa indústria, que este desporto ganha audiência, mas perde essência. Mourinho é apenas uma das faces dessa decadência. Já chateia.
Há por aí situações demasiado graves para que assobiemos para o lado e nos limitemos a sorrir perante o estado a que isto chegou. Paulatinamente, a desacreditação das instituições desta triste república é uma evidência que assusta e que, pior, se instala. Há então que mudar alguma coisa, mesmo que esse mudar signifique, em parte, não mudar grande coisa. Mas seria salutar para a nossa frágil democracia que alguns excessos fossem devidamente punidos para que o crime nunca compensasse. E que esta gente apanhasse com cadeia e cumprisse pena junto de criminosos de delito comum. Já basta desta fantochada.
O verão na aldeia dos meus avós paternos era sinónimo de festa. Julho era mortiço, mas Agosto explodia porque os “filhos da terra” (os de dentro e os de fora do país) lá iam chegando com os seus descendentes. Aos poucos, tudo mudava e um sítio outrora envelhecido ganhava a súbita alegria das crianças. Agosto corria célere então. As tardes quentes eram passadas a semear o pânico junto das galinhas e dos patos e a comer frutos às vezes verdes das árvores. Pelo meio, futebol sem balizas e mergulhos clandestinos no rio. As consequências podiam ser nefastas, mas valiam os riscos. Naquele tempo era-se simpaticamente feliz com pouco. Hoje, ao olhar para a televisão que revela Portugal em Agosto e que mostra a felicidade dos nossos emigrantes, recordo-me de Trás-os-Montes e das suas gentes. Afinal, nós não mudamos grande coisa porque um regresso é sempre um regresso que enche quem um dia se despediu de uma incomensurável alegria. Há dez anos que não vou à aldeia por motivos naturais, mas na minha memória está sempre aqueles verões extraordinários. E se Pavese dizia que não se devia regressar nunca a um sítio onde se tivesse sido feliz, olhando agora para a festa na televisão, sorrio porque ele tem toda a razão: mais vale viver com a memória dos bons velhos tempos do que agoniado com a nostalgia de um tempo que não volta nunca mais.
O futebol doméstico continua na sua senda patética porque há um certo mau perder alimentado por aqueles que são sucessivamente beneficiados nos campeonatos do deve e do haver. Pena que os clubes pequenos não se unam para acabar com certas misérias que por aí grassam. E pena ainda que muita gente não veja que não há futebol digno sem respeito pelos clubes pequenos. Quanto ao resto, o cão ladra, mas o Marítimo passa.
Com o avanço da biotecnologia, os bebés feitos por encomenda serão uma realidade. Naturalmente, os pais escolherão os genes que lhes interessam, incluindo porventura alguns que não possuem. Resultará daqui que os bebés feitos em laboratório tornar-se-ão mais altos, mais fortes, mais bonitos e mais inteligentes. Logo, melhores. Mas serão ainda humanos? Ou entraremos noutro domínio da evolução? Num outro prisma, a luta entre ricos e pobres será biotecnologicamente desigual. Aos pobres caberá o que houver em sorte e aos ricos o que eles muito bem entenderem. O Admirável Mundo Novo de Huxley está, assim, à curta distância do controlo genético dos laboratórios e da sua infinita imaginação. Ler Fukuyama e o seu “O Nosso Futuro Pós-Humano”, um livrinho da Quetzal já com alguns anos, pode ajudar a meditar sobre um certo mundo louco em que andamos a passear. E que, por preguiça, andamos de certa forma a menosprezar.
Logo que o Dr. Seguro garantiu o seu sonho de adolescente, a possibilidade de haver um entendimento constitucional entre os principais partidos caiu, quase imediatamente, por terra. E tudo porque o novo líder do PS, supostamente um “jovem” de ideias arejadas, vive afinal, também ele, enfeitiçado por ideias falsas. Mas realce-se que desta lição política emerge mais uma indesmentível verdade: em Portugal, os que querem efectivamente transformar as coisas são apelidados de conservadores (a direita) e os que querem deixar tudo exactamente na mesma modorra são os chamados progressistas (a esquerda). Infelizmente, e sem descurar a evidente ironia aqui presente, parece que nos vamos manter por mais algum tempo presos a esta triste sina que canta. Bastou eleger o Dr. Seguro para tudo voltar ridiculamente ao mesmo. Não tinham saudades, pois não?
Já todos sabíamos que o socialismo vivia numa opulência que não se coadunava com o empobrecido estilo de vida dos portugueses. Mas agora de que adianta falar de um passado morto e enterrado, quando a nossa vida comum se mantém indubitavelmente igual? O que conta é o que temos (ou que julgamos ter), o que queremos (ou que podemos vir a ter), o para onde vamos (se lá chegarmos), o como (se alguém conseguir explicar) e o durante quanto tempo (se não for incomodar muito). Tudo o resto, é monumental tiro na água.
Tony Soprano: "The belt was his favorite child development tool. "
A imaginação humana mantém-se assombrosa e com a bitola manifestamente elevada. Basta deambular pela Internet para descobrir uma genial e imensa sabedoria baseada no ouvi dizer, na intriga, na inveja e na interpretação reprovável e imaginativa. Tanta necessidade de falar sobre o que não se conhece leva a malabarismos, a contorcionismos e a torcicolos desnecessários. Contudo, o totoloto da adivinhação é como ir à caça de codornizes de metralhadora em riste: de tanto disparar alguma coisa há-de cair. Touché.
Certas notícias são tão escabrosas que a primeira coisa que fazemos é duvidar da sua veracidade. Mas como são infelizmente verdade, comprovamos a nossa entrada no domínio do absurdo humano, aliado a essa inqualificável vontade de fazer o mal. Uns dirão que a violência gera violência, mas isso é desculpa ilusória para a monstruosidade em apreço e para os laivos surrealistas que o adornam. Quando galgamos a fronteira do aceitável, o problema já não é saber onde e como se começou, mas quando se vai conseguir parar. Sem combate sério e dedicado, a maldade humana continuará a ceifar milhares de vidas, pela violência nas fronteiras deste e de outro mundo – de um mundo que funciona à margem da dignidade e do respeito humanos e aquém de qualquer regra mínima de bom senso.
Omar: "I'll do what I can to help y'all. But, the game's out there, and it's play or get played. That simple."
Certos princípios são invioláveis. E certas promessas deviam ser inquebrantáveis. É por isso que esta mixórdia com a administração da Caixa faz pouco sentido num momento em que os portugueses se vêem compelidos a marcar passo numa crise cujo fim não se vislumbra e quando é necessário que o governo se esforce por passar uma mensagem de seriedade e de rigor. Mas todos nós compreendemos que surja um certo apetite pelos lugares gordos do Estado quando se muda o partido do governo. Mas já não compreendemos como podemos cair tão facilmente em certas armadilhas quando sabíamos que elas estavam lá. Porque na verdade o que choca é ter havido tanta mediatização por causa de um governo mínimo, para termos agora uma administração bancária de cariz máximo. Não havia necessidade.
Blogues Madeirenses