Anda por aí um certo género de madeirense que se diz envergonhado, perante os continentais, com a situação da Região. Mau grado não se ver ninguém verdadeiramente incomodado com a situação do país, estranha-se esta abrupta vergonha quando aquilo que este país, no seu global, mais sabe fazer, é viver acima das suas possibilidades. Por certo, nunca leram história nem sabem um mínimo dela: é que estamos nisto há 200 anos – nesta evidente pasmaceira, de crise em crise, e a viver alegremente pobres, que é na realidade aquilo que sempre fomos, mas elegantemente explorados pela elite política centralista. Não adianta agora estes assomos ridículos de chauvinismo e muito menos de um “envergonhalismo” serôdio e comovente. Curiosamente ninguém se envergonhou tanto quando o FMI, pela terceira vez em 30 anos, veio tomar conta da nossa remota aldeia e entrou por aí adentro a dizer como é que nos devíamos governar. Pela terceira vez em 30 anos, leu bem.
*In Jornal da Madeira, 22-09-2011
O Dr. Maximiano não perde uma para tentar ficar bem na fotografia. Diz-se também ele envergonhado com a situação porque não admite que estas coisas aconteçam. Claro está que poucos lhe dão importância e tirando a minha pessoa que lhe dedica algumas linhas neste humilde artigo, quase ninguém dá por ele. Mas, coincidência ou não, vergonha foi coisa que o Dr. Maximiano não sentiu quando aprovou leis que fizeram os madeirenses perderem centenas de milhões de euros a troco de um apoio político indecoroso que realçou de que lado ele estava. Mas perante a hecatombe irresolúvel e o beco sem saída onde parece que caímos todos, muito se estranha que o Dr. Maximiano não arranje mais nada para fazer do que se meter no tal sarilho que pressente. Se isto não tem solução, o que pretende ele?
*in Jornal da Madeira, 22-09-2011
Certas notícias são feitas com o objectivo claro de fazer passar determinada mensagem. E todos nós sabemos que as coisas são o que são e que as cumplicidades existentes impõem condutas às vezes pouco transparentes. Não querendo condenar até porque não faço parte do meio e tenho alguma dificuldade em ajuizar quando estou de fora, há, porém, certos escritos que deixam muito a desejar por um de dois motivos. Ou porque se quer ser mais papista do que o Papa (um primeiro motivo); ou porque se quer ser precursor de alguma teoria obtusa e sem sentido, tentando ser idiota e/ou tentando ser imaginativo (um segundo e muito abrangente motivo). Um dos mais recentes que li dizia que a Dra. Manuela Ferreira Leite tinha perdido as eleições depois de ter feito uma série de elogios à Madeira em período de campanha eleitoral. A inenarrável teoria não merecia um mínimo comentário, mas comprova um certo desespero de [e na] causa. E revela a idiotia. Ou a imaginação. Ou a imaginação idiota se preferir. Tanto faz.
*in Jornal da Madeira, 22-09-2011
O ex-futuro representante do CDS/PP a nível nacional (anunciado e depois colocado de parte ainda sem justificação) mantém a sua política mediática bem alimentada e alinhadinha. Fala um pouco de tudo, mas falta por vezes aos debates por motivos de força maior, talvez porque não se queira misturar com tanto sábio e especialista em bananas, marinas, hospitais, turismo, zoologia, política assistencial e ideias sortidas e variadas sobre como poupar distribuindo subsídios e construindo tudo e mais alguma coisa. Mas ao ver aquelas suas propostas escorreitamente delineadas nos inquéritos sabemos bem que a coisa é afinal pior do que parece, o que esclarece cabalmente a confusão que ali vai. Vale que por entre a luminosidade de algumas ideias, ficamos já muito bem documentados sobre as reais intenções do Sr. Rodrigues: vir aqui fazer de conta que tem um bom resultado e ir de abalada no dia seguinte. Aconteça o que acontecer, e por antecipação, faça boa viagem Sr. Rodrigues. Lisboa já não vive sem si.
O Dr. Portas foi à América falar para uns congressistas do Comité de Relações Externas da Câmara de Representantes sobre a “singularidade da situação portuguesa” porque ela afinal não é igual à grega. Ao mesmo tempo, o Dr. Portas pretendia também esclarecer a determinação do governo português em fazer cumprir com as metas traçadas por quem nos emprestou o dinheiro, evidenciando a nossa capacidade de galgar as dificuldades e de atingir os objectivos. Percebe-se muito bem a utilidade da coisa e a razão de tão sumptuosa notícia, ainda que ir falar de objectivos de défice ao país mais endividado do mundo seja praticamente o mesmo que tentar explicar a um leão os benefícios de uma dieta vegetariana. Mas vá lá que o Dr. Portas sempre tenta. E vá lá que ele gosta de saber que nós ficamos a saber que ele tenta. Ainda bem. Estamos todos muito felizes.
O Dr. Pedro Passos Coelho tem todo o direito de não querer fazer campanha nestas eleições regionais. Mas quem não quer fazer campanha, não puxa dos galões e não oferece aos nossos adversários brindes natalícios. Se o seu sentido de Estado lhe diz para impor a distância no cumprimento das suas funções por razões que até podemos todos compreender, então o mesmo sentido de Estado tem de lhe dizer que nesta guerra ele não pode, nem deve, meter a colher. É que não querer fazer campanha é uma coisa. Fazer campanha pelo adversário é outra bem diferente. Que isto fique bem claro.
Os que desesperam por qualidade literária deviam ler “As Benevolentes” de Jonathan Littell, um romance sobre um ex-oficial nazi, Maximilian Aue, que atravessa a segunda guerra mundial e que dá por si, anos depois, a escrever as suas memórias em França. A obra reflecte o niilismo levado ao extremo e a banalização total do mal, como um dia lhe chamou Arendt. E vemos então que esse mal tinha rostos, nomes, motivações e fiéis e empedernidos seguidores. Esse mesmo mal que é indescritível e gratuito e que à escala industrial dizimou, debaixo dos olhares cúmplices, sem hesitar e sem remorso, milhões e milhões de seres humanos. Dividido em sete capítulos com nomes musicais, numa clara alusão ao gosto das principais figuras nazis pela música clássica, “As Benevolentes” são novecentas páginas de escrita sublime, aterradora e, claro, arrebatadora, que não deixam nada, absolutamente nada, de fora na escalada rumo à ruína total do ser humano enquanto pessoa. Escrita do melhor que alguma vez li. Escrita feita de murro no estômago atrás de murro no estômago, mas não recomendável a gente sensível. Mas é escrita para nos pôr a pensar na besta em que o ser humano se pode facilmente transformar. Colossal.
Julliana Margulies Kyle Chandler
Boas notícias para esta senhora (por The Good Wife) e para este senhor (por Friday Night Lights). Mas a grande favorita levou pelo quarto ano consecutivo a estatueta de melhor série dramática. Mad Men é um visível caso de sucesso e uma série que não nos consegue deixar indiferentes. Um colosso.
A bolinha doméstica continua o seu passeio glorioso. Hoje, à procura dos resultados da jornada do último fim-de-semana, vejo que velhos hábitos não desapareceram e que a jornada, que começou, dizem, na sexta, ainda não terminou. Portanto, mantemos esta importante originalidade de fazermos jornadas ao longo de quatro ou cinco dias quando a civilização, ler os principais campeonatos, as termina em dois ou três, mesmo quando jogam para as Ligas dos Campeões (com cada vez menos campeões) e para as Ligas da Europa (um subterfúgio para tentar extrair mais algum, sem interesse absolutamente nenhum). Claro está que o indígena é um visionário a quem só pode ser assacado o mérito de ver mais longe do que todos os outros. Se pelo meio, a média de assistências diminui e a qualidade do jogo jogado também, é apenas um pormenor irrelevante para o caso. Povoado de esforçados treinadores portugueses e avalizado pela mediocridade dirigente em curso, o futebol português entrou há muito numa curva descendente. Bizarramente, todos parecem contentes com isso. Parabéns.
No dia 29 de Agosto, o DN local garantia que José Manuel Rodrigues seria o novo representante institucional do CDS/PP. No dia 30 de Agosto, o Público online anunciava Nuno Melo como novo representante institucional do mesmo CDS/PP. Entre um dia e outro, algo de grave deve ter acontecido para ocorrer tão radical alteração. De um modo porventura suspeito, ninguém quis saber do assunto, incluindo os que fizeram a notícia. Mas certas coisas não passam assim tão despercebidas como se julga. Nem andamos todos nós assim tão distraídos.
*In Jornal da Madeira, 18-09-2011
Na luta eleitoral por um lugar ao sol, o Dr. Maximiano do PS mantém-se convencido da magnanimidade da sua estratégia política para o nosso arquipélago. Mau grado aquele acidente de percurso que lhe mancha o currículo – a persistente mania de votar contra a Madeira e os madeirenses e a sua enorme autopromoção à volta desse assunto – ele tenta agora, em esforço, chegar ao fim da corrida. No entanto, parece que os seus correligionários não lhe garantem grande protecção nem grande solidariedade, coisa que infantilmente se nota na cobertura noticiosa. Por agora não sabemos se o Dr. Maximiano se limita a seguir à risca aquela velhinha máxima do mais vale só do que mal acompanhado. Mas desconfio que em breve descobriremos.
*In Jornal da Madeira, 18-09-2011
A Constituição voltou ao debate e com ela os velhinhos dogmas do costume. Entre os que querem alterar para piorar e os que querem acrescentar para limitar, não há grande diferença de objectivos ou de ambições. Resumindo: parte da discussão à volta deste assunto mantém-se ridicularizada por motivos que toda a gente confirma. Infelizmente, a nossa elite governativa ainda não se convenceu de que é a Constituição que é feita para as pessoas e não as pessoas que são feitas para a Constituição. Sem perceber isto, continuamos indecorosamente a chover no molhado. Já quase não vale a pena.
*In Jornal da Madeira, 18-09-2011
Com a quebra da natalidade e o aumento da esperança de vida, o envelhecimento populacional trará uma transformação profunda nas estruturas sociais e no modo como com elas lidamos. Se a idade média subir para valores perto dos 50 ou mais anos, como se prevê já no meio deste século, há todo um conjunto de problemas que vão emergir porque uma população envelhecida é mais resistente à mudança, mais conservadora nos hábitos e no modo de pensar e menos afoita na procura de oportunidades. Nestes moldes, não nos admiremos que toda uma concepção de vida que temos como maioritária hoje – alguma dela excessivamente baseada no viver como se não houvesse amanhã – desapareça para dar lugar a estilos de vida mais maduros e ponderados. Na verdade, e pensem bem, que sentido fará mostrar trapinhos e bugigangas em miúdas de 20 anos, quando o público-alvo tem grosso modo mais de 50 anos? Alguma vez pensaram na enorme transformação social que aí vem?
*in Jornal da Madeira, 18-09-2001
"Nunca, em quase 50 anos, conheci um político que se aproximasse tanto de não ser nada como António José Seguro. Não tem um currículo académico de qualquer distinção. Não tem um currículo profissional. Em 30 anos de PS raramente se deu por ele. Nunca esteve à frente de um grande ministério ou se distinguiu na administração do Estado. E o nome dele não está associado a qualquer grande causa. Mesmo se acabou por chegar onde chegou foi depois de uma catástrofe eleitoral sem nome e porque o previsto sucessor de Sócrates preferiu continuar na Câmara de Lisboa. Parece que, no meio deste mar de mediocridade, António José Seguro é muito bom a "trabalhar o partido", ou seja, a massajar o ego de "militantes" de segunda ordem e em angariar apoios para a sua própria promoção. Esta faculdade, ao menos, não há a menor dúvida de que o serviu.
Durante o consulado de Sócrates, que (vale a pena lembrar) durou quase sete anos, não se ouviu um protesto ou uma crítica de António José Seguro. Para ele tudo estava pelo melhor no melhor dos mundos. Mesmo quando as coisas se tornaram claras para a maioria dos portugueses, continuou calado. Nem sequer no último momento declarou com clareza e alguma coragem a sua evidente candidatura. Preferiu sempre a evasiva e a dilação. E os socialistas votaram por ele, porque não podiam votar num herdeiro de Sócrates (que o eleitorado manifestamente execrava) e não havia uma alternativa decente. Até Mário Soares, pela única vez na sua vida, se absteve. E assim ficámos com um chefe da oposição sem uma ideia na cabeça e com um ar irresistível de seminarista.
O congresso do PS e a intervenção na Assembleia da República de quinta-feira passada mostraram o verdadeiro Seguro. Um homem que repete de cor uma cartilha programática obsoleta; que não pára de garantir a unidade de um partido que ninguém pensa em dividir; que berra e estica o dedo para se fazer importante; e que não convence o mais plástico português. Claro que Seguro (e seu PS) se dispensaram de abrir a boca sobre o consulado de Sócrates, que os compromete pessoal e colectivamente. Mas não compreenderam que, se não se aliviarem dessa pesadíssima carga, só lhes fica o vácuo. Era bom que a história recomeçasse segundo as conveniências tácticas de cada um. Sucede que não recomeça e que Seguro foi apanhado entre um passado impossível e um futuro a que obviamente não pertence."
Vsco Pulido Valente, Público, 16 de Setembro de 2011
O governo prepara-se para extinguir chefias e uns quantos organismos públicos. Mas nada de precipitações. As chefias, muitas delas, são inúteis porque não chefiam coisíssima nenhuma e são, por isso, bem extintas, mas os organismos eliminados não implicam o fim dos seus funcionários por razões mais do que evidentes. Impedido de despedir ou de eliminar funcionários públicos, resta ao governo, depois do fecho das suas frivolidades estatais, recolocar a sua gente noutros sítios e paragens, um belo exemplo da ginástica pública. Quem pensa que virá daqui alguma espécie de redução do funcionalismo público, ou do malfadado défice, engana-se redondamente porque a lógica subjacente é manter praticamente tudo inalterado porque não há milagres e porque despedir gente para além de inconstitucional é impopular. Por agora, pode ser que estas operações de cosmética – em que todos os ministérios parecem especialistas velados – adiem algumas outras necessidades mais urgentes. Mas adiar, é bom que se perceba, não significa resolver.
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O Dr. Louçã não perdeu tempo e aproveitou para falar, no último debate quinzenal, do buraco da Madeira. Todos sabemos que basta ao Dr. Louçã sentir o cheiro do sangue para que ele salive deliciado com a possibilidade de um banquete. Mas o Dr. Louçã é daqueles que felizmente não conta para as contas que são efectivamente necessárias. E como inimigo declarado da democracia em vigor, é triste continuar a vê-lo neste papel de demagogo de pacotilha a vociferar contra o sistema que lhe dá guarida e projecção. Mas mau grado a vozearia, geralmente em decibel elevado, o Dr. Louçã vale, também felizmente, cada vez menos no nosso sistema democrático. E de queda em queda, pode ser que depois do auge ele atinja a merecida imolação.
Boas notícias são boas notícias e esta não é excepção. A confirmar-se, como é evidente. Nem tudo pode ser sempre mau. Ou para sempre mau.
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