E hoje é um daqueles dias verdadeiramente especiais para a Humanidade: chega aos 7 mil milhões de indivíduos e demonstra que é um projecto biológico de sucesso. Falta-nos ainda muito bom senso e humildade, como aliás frequentemente se vê, e falta-nos ainda sermos todos melhores pessoas, para que se evitem certos comportamentos imorais e certas imbecilidades que já chateiam. Não importa agora o sítio que marca o acontecimento ou o sexo do bebé. Mas bem-vindo. Ou bem-vinda. Tanto faz.
Presumo que o senhor não tem a mínima noção da realidade. Presumo ainda que o senhor não tem a mínima noção do ridículo em que anda. E presumo, finalmente, que o senhor ainda não entendeu que é melhor assobiar para o lado e fingir que não é nada com ele.
“Nós reconhecemos a necessidade da democracia nesses Estados, normalmente repressivos. Mas e se a democracia conduzir a uma teocracia islâmica ou a qualquer situação do género? Esta não é uma preocupação quimérica. Nos quatro cantos do mundo, vários regimes democraticamente eleitos, muitas vezes, ou que foram reeleitos ou confirmados através de referendos, ignoram constantemente os limites constitucionais do seu poder e privam os seus cidadãos de direitos fundamentais. Este fenómeno perturbante – visível do Peru aos territórios da Palestina, do Gana à Venezuela – designamo-lo por democracia iliberal.” Fareed Zakaria, O Futuro da Liberdade, p.15
O Dr. Paulo Campos, outrora secretário de Estado, foi a uma comissão negar o que toda a gente sabe e conhece e comprovar que o socialismo tem um problema qualquer com a realidade. Num outro prisma, o PS do Dr. Seguro, inefável na sua corrida rumo à sua própria obliteração, descobriu uma qualquer ilegalidade no orçamento por faltar um documento que tem que ver com as grandes opções do Plano, mas deixou uma decisão sobre o mesmo (o Orçamento) para o próximo dia 11, altura em que o mesmo Dr. Seguro pretende reunir os amigos e apaniguados, numa comissão política, para decidir acompanhado aquilo que ele, pelos vistos, ainda não conseguiu analisar sozinho. Entretanto o Dr. Portas esteve momentaneamente em Portugal para, numa comissão, cumprimentar efusivamente o Sr. José Manuel Rodrigues, líder regional do seu partido na Madeira e participar numa farsa combinada entre eles que metia inclusive uma espécie de "confronto". A coisa não se fica por aqui, porque ainda falta o Dr. Louçã que mantém elevada a bitola populista que o caracteriza e que não se cansa de ameaçar com a luta contra o governo e as suas medidas e de bradar contra o capitalismo que, curiosamente, o sustenta e o eleva. Mais para o fim do dia ficou reservado o melhor, já que o Conselho de Estado (um importante órgão consultivo, dizem) se reuniu para apelar, depois de seis intensas horas, a um “diálogo construtivo” (?!) entre os portugueses e as suas instituições. A vida, para os restantes e não envolvidos nestes e noutros assuntos, deve seguir dentro de momentos. Mas convém não esperar nenhuma aberta pela manhã e, pelos vistos como promete a meteorologia, nem para o fim da tarde. O país está debaixo de temporal. Com a Europa solenemente parada e à beira do caos (a nossa única e talvez verdadeira esperança), nada como viver habitualmente. O último que feche a porta. Devagar, por favor.
Nenhum governo gosta de impor medidas draconianas. Nenhum governo gosta de fazer males absurdos. E nenhum governo prefere ser impopular a ser popular. Pensemos nas coisas nestes termos, enquanto se espera que o purgatório que vamos atravessar seja um meio para uma saída graciosa e não um fim igual ao esforço da criança que Santo Agostinho viu à beira-mar a tentar esvaziar o mar com uma concha: escusado e inútil.
Toda a acção tem uma reacção. E, no caso em apreço, sintomática dos tempos que passam.
Não vale a pena dar publicidade a uma coisa que não merece um único comentário já que a imaginação – e a idiotia também – humana continua a voar por aí sem limites visíveis de bom senso ou bom gosto. O Sr. Rodrigues dos Santos merece continuar a perseguir o título de mais vendido do país porque só isso o preenche, mas já não merece a publicidade bolorenta feita apenas com o intuito de vender e promover. A bem da verdade, nunca li nada do senhor. Nunca precisei e espero nunca sentir nenhuma espécie de atracção pelo género. Os enredos apresentados são sempre, ou excessivamente pretensiosos ou penosamente vazios, o que é igual. E com dezenas de livros, literalmente dezenas, em espera e a precisar da minha atenção, não conto perder um único serão embrenhado em teorias abstrusas envoltas em boas encadernações mas de conteúdo duvidoso. Contudo, espero que toda a gente perceba que os livros do Sr. Santos são iguais aos livros do Sr. Dan Brown: servem para divertir a malta e não são para serem levados a sério.
As medidas austeras para os próximos anos não auguram coisa boa para a depauperada economia portuguesa, sujeita a uma pressão externa sem precedentes e a variadas anomalias internas. Mas antes que se veja em Portugal uma nova Grécia, convém separar o trigo do joio e dizer que os portugueses não são iguais aos gregos e que estavam, e ainda bem, longe do regabofe instituído nas terras do nosso berço civilizacional. Há coisa de três anos, a Irlanda, outrora um suposto tigre asiático na Europa, anunciou medidas semelhantes, cortando na altura, por exemplo, 10% dos ordenados dos funcionários públicos, situação tida como inacreditável e contraproducente, mas necessária para conter um défice crónico. Três anos depois, a Irlanda apresta-se a regressar ao crescimento económico depois de corrigidos alguns dos seus defeitos de fabrico e em aparente harmonia social. Olhemos então para a Irlanda e não para a Grécia. Porque é melhor ver a esperança de um bom exemplo do que a desgraça de um péssimo.
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Leio o último livro de Philip Roth (Némesis, da D. Quixote, título cujo significado daria pano para mangas), um regresso a uma fase recente muito existencialista. Talvez a idade já avançada do autor explique este fascínio com a morte e com a procura de respostas sobre questões que desde o início dos tempos o homem coloca a si mesmo: Qual é o sentido da vida? Qual é a justiça dos homens e dos seus deuses? O que fazemos aqui? Porque é que Deus castiga os indefesos? Porque é que Deus leva as nossas crianças em doenças estúpidas? (O que, no caso em apreço, tem que ver com um bairro judeu de Newark assolado, em 1944, por uma epidemia de poliomielite) Há algo ali que perturba. Que me perturba como poucas coisas na vida. Por mais voltas que dê, fico sempre com mais dúvidas do que com certezas. E as palavras escorreitas juntas em frases de uma beleza fria tocam no âmago das minhas próprias interrogações existenciais que, de tempos a tempos, me depredam um pouco preparado espírito, deixando-me abalado, ao mesmo tempo que me deixam triste porque há naquela estética literária algo de maravilhoso mas igualmente de desesperante. De cada vez que leio um Roth assim, digo a mim próprio que é o último que leio e que o abandono de vez, logo a ele que é só o meu escritor favorito. Mas o problema é que ele regressa sempre e torna-se um vício de que não me consigo libertar. Há grandeza naquelas palavras sábias porque só um grande escritor pode escrever assim. E hoje, se reflicto muito no assunto, sinto que podia enlouquecer porque ele tem o incrível dom de por vezes não me querer deixar adormecer. E é nessas alturas que olho à minha volta e sinto vontade de abraçar os meus. E de agradecer a Deus ter-me poupado, até agora, a tanto drama e pensar que tudo isto podia de facto ser bem pior.
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Se o nosso problema está no lado da despesa pública, faz sentido que seja o sector do Estado, e não os privados, a carregar com a maior fatia dos cortes necessários. E numa situação de crise intensa, é melhor manter os empregos do que despedir pessoas. Mas dispensavam-se comentários pouco abonatórios para com os funcionários públicos, porque eles, no geral, não têm culpa da má gestão estatal. Embora paguem por ela.
Comemorar o quê e para quê continuam a ser boas questões às quais poucos respondem. Interessante como perdemos tempo a celebrar um regime cujo desfecho, em 2011, é o que se conhece. De uma vez por todas é tempo de mudar as coisas e acabar com certos dogmas que só repelem e atrasam. Este país, um incorrigível permanente por sinal, não se pode manter neste ocaso duradouro em que de crise em crise ninguém pensa numa solução estrutural e geracional para sair do maldito círculo vicioso que só nos afasta do bem-estar da civilização e se limita a pagar as contas deixadas por outros.
A rua começa a movimentar-se. À frente os principais sindicatos, logo atrás seguem os partidos políticos que não conseguem viver ou sobreviver sem contestação. Estão no seu pleno direito: no pleno direito de se indignarem, no pleno direito de se manifestarem, no pleno direito de fazerem greve. Mas a vida precisa de continuar. E por agora, com um governo recentemente eleito e assente numa maioria parlamentar, mais vale procurar alternativas construtivas capazes de minimizar esta lixeira onde vamos entrar. Por certo, muitos vêem aqui um sentimento de desistência. Mas não é nada disso. É pensar que ou conseguimos dar mesmo a volta ao texto – trabalhando mais, poupando mais, sacrificando mais, exigindo menos – ou não vamos mesmo a lado nenhum. As alternativas a isto não são, penso eu, boas notícias. São quanto muito ainda piores notícias. E agora nada como esperar que o governo saiba ajustar as velas e levar esta enorme nau a bom porto. Mas que por acréscimo acabe com o fandango que por aí corre nos seus mais variados organismos e empresas. É o mínimo que se exige.
Certos personagens deviam abdicar de tecer comentários sobre a situação do país. Aliás, devia haver uma lei que proibisse certos políticos com antigas responsabilidades de “botar faladura”, como diz o brasileiro, sobre os assuntos domésticos. Por dois singelos motivos: por uma questão de boa educação – um primeiro e forte motivo – e – segundo motivo – por uma questão de vergonha na cara, como é o caso deste senhor cujo buraco legado é inversamente proporcional às saudades que temos dele. Esta gente não tem espelhos em casa?
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