Como a notícia propicia, a voz que defende esses interesses só pode ser a do Dr. António José Seguro que, para além de escrever cartas, também viaja de avião até Bruxelas para se dar a conhecer. Mas uma análise cuidada, fora das limitações das notícias fabricadas e da inusitada propensão para relevar o irrelevante, denoda aquilo que o Dr. Seguro é: uma nulidade efectiva sem nenhuma ideia própria, que gasta o tempo a falar de trivialidades. Depois da agenda do crescimento (que ele nunca explicou) a nova originalidade passa pelas ditas cartas onde perora sobre Portugal e umas visitas a terras estrangeiras para se mostrar viajado. A isto, soma-se a ladainha feita para entreter o povo e se mostrar muito, ou demasiado, indignado. Tudo isto faz parte de uma mesma estratégia. Como é natural, depois de amansado o clima de guerra civil, o Dr. Seguro aguarda, fazendo-se notar, pela derrocada do regime e pela queda do poder no seu colo. Nessa altura, não aparecerá só, mas também não virá bem acompanhado, atestando pelas luminárias que ele diz serem uma alternativa credível à falta de credibilidade do momento, como diz ele, actual. Se a política merece bem melhor que esta irracional possibilidade, o país, então, nem se fala. Mas se cairmos nesta esparrela, não será por não termos sido avisados.
Qualquer dia, nenhum governante quererá passar por este papel e as aparições públicas serão uma miragem, por causa de alguma gente que não se sabe comportar. O exemplo que aqui vemos elucida-nos como uma brincadeira para aparecer nos telejornais, facilmente resvala para o insulto gratuito e para a má-educação. Sou suspeito de gostar de Miguel Relvas, mas reconheço que ele aqui esteve bem, reagindo como devia reagir e enfrentado sem receio gente que ali estava apenas para instilar a ofensa e sujeitá-lo a uma humilhação pública.
Mas os que, em coro, entoaram o “Grândola Vila Morena”, deviam perceber a verdadeira mensagem daquilo que cantarolaram. No fundo, Miguel Relvas é representante de um governo legítimo e eleito pela maioria dos portugueses porque é, sem tirar nem pôr, “o povo quem mais ordena”.
Perante a inevitabilidade do destino, que teima em trazer a realidade, resta aos políticos falar de ar e de vento, comprovando a sua irrelevância. O mundo em 2013 é um mundo complexo e a Europa, os seus líderes, persiste no erro. Fechado, incapaz de mudar, incapaz de ser uno, o projecto europeu lá vai ruindo ao som da bandarra das peças de dominó que caindo vão derrubando as que se seguem. Sobra pouco que alimente esta miséria, mesmo que Hollande tenha sido, por momentos, uma esperança saloia atirada contra os que se recusam aceder ao facilitismo. A França conta pouco, Hollande conta menos. Com viagens ou sem viagens, com promessas ou sem promessas, o nosso fado é um fim sem retorno.
Com o parasita principal alojado em Paris a viver de empréstimos, e os secundários acampados na Câmara de Lisboa e no Parlamento à espera de ver como param as modas e do Messias ressuscitado, o Dr. Seguro é, coitado, um líder de prazo curto, num país, julgo eu, sem um mínimo de interesse pelo futuro dele. Vale que o Dr. Costa, esse excepcional estadista engendrado nos jornais e televisões, continua a dar tiros no próprio pé por causa da pressa de ter pressa e da intriga que audaciosamente alimenta nos sítios do costume.
Entretanto, o festival de variedades continua a reboque dos intrometidos de ocasião e agora também das nulidades que aterraram em Cascais para falar de uma coisa que não existe, mas onde o Dr. Seguro vê toda uma luz de esperança. Por certo, a coisa insiste em não lhe correr bem: nem Royale é conhecida pelo brilhantismo (apesar de bonita), nem Papandreou pela filosofia política (apesar de grego). Desta história portuguesa, sobra um imenso desespero: o Dr. Seguro agarra-se tanto às palavras de uma derrotada como se perde nos abraços a um tipo que ajudou a levar um país inteiro à ruína. Como se pode ter pena dele?
Convenhamos que nomear o Sr. Franquelim Alves, ex-administrador do BPN, para secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação não deve ser um bom exemplo para os empreendedores-competitivos-inovadores deste país. A não ser que se queria incentivar outro tipo de empreendedorismo, de competitividade e de inovação junto dos portugueses, nomeadamente dos jovens. Aliás, e vendo por este prisma, o BPN mostrou bem como se pode ser empreendedor (fazendo desaparecer uns míseros 3,7 mil milhões de euros que se podem tornar rapidamente em 6 mil milhões), como se pode ser competitivo (usando dinheiro que não se vai pagar nunca para fazer o que nos apetecer) e como se pode ser inovador (criando uma rede tenebrosa de gente ilustre que se serve num banquete às centenas de milhões). No fim das contas, tudo isto é uma simples questão de perspectiva.
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