Uma metáfora, desastrada, soltada pelo meio de uma entrevista a Djisselbloem, líder do Eurogrupo, incendiou os ânimos, fez soltar os cães e apelou à utilização de figuras de estilo alternativas por parte do indígena.
O Dr. César, líder da bancada socialista e baluarte da boa educação na AR, optou pela antonomásia ao afirmar que “é o tipo de criatura que não faz falta na União Europeia”.
Um tal de Duarte Marques, conhecido mais pelo dislate do que pela seriedade, seguiu a via da prosopopeia porque para ele “este socialista holandês é um atrasado mental”.
Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS, foi um pouco mais longe e escolheu uma perífrase já que Djisselbloem não passa de “[…] um sobrevivente sem escrúpulos, [que] decidiu acicatar o pior da Holanda, vestiu uma camisa castanha e deu largas à xenofobia como se estivesse em cima de uma cervejaria bávara” acrescentando que o holandês é um “Djosselcoiso, pseudo-socialista e lacaio internacional”.
E o Bloco, esse mar de virtudes e de gente séria que nunca perde uma oportunidade para aproximar o fascismo das palavras, também atirou uma anáfora e considerou as “declarações absolutamente xenófobas, racistas, sexistas, preconceituosas […]”.
Vale que o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, conhecido por comparar a concertação social a uma feira do gado (uma metáfora, convém relembrar), foi mais comedido e imaginativo.
Para Augusto Santos Silva “o presidente do Eurogrupo continua passados estes anos todos sem compreender o que verdadeiramente se passou. […] O que aconteceu foi que nós, como outros países vulneráveis, sofremos os efeitos negativos da maior crise mundial desde os tempos da grande depressão e as consequências da Europa e a sua união económica e monetária não estar suficientemente habilitada com os instrumentos que nos permitissem responder a todos os choques que enfrentamos”. Eis como um eufemismo explica tão bem aquilo que verdadeiramente aconteceu.
Marcelo, o Príncipe do Povo de acordo com o Expresso, não sabe se se recandidata em 2021. Decidiu guardar a resposta para 2020, como se alguém acreditasse na sua falta de vontade depois de lhe tomar o gosto e o jeito para interferir em tudo, incluindo numa associação de condomínio que não funciona em Odivelas e no inadmissível desplante da Dra. Teodora Cardoso, mulher com toda a certeza alienada da realidade. O presidente, perdão, o príncipe do povo e dos afectos julga, assim, estar a criar um tabu de enorme ansiedade na pátria. Talvez esteja certo.
O filme em exibição exige mestria e a presunção de que os actores e restantes figurantes cumprem e obedecem ao guião que traz insultos, erros de português e mentiras gloriosas numa casa da democracia transformada em cortejo de entulho. E enquanto o Trio Odemira (Costa, Catarina e Jerónimo) actua e o príncipe (Marcelo) dirige – por entre selfies, beijinhos e abraços de circunstância –, o público, embevecido, ri ou chora conforme as orientações do Sr. Galamba do twitter, da D. Mariana das gémeas e de um tal Tiago do PCP, especialista em artes marciais e em ameaças subliminares à mesma Dra. Teodora que vem no primeiro parágrafo desta história. É por isso que o filme não pode parar: a direita é a má da fita e a esquerda é a heroína (no seu duplo sentido) da história (no seu duplo sentido). Por entre uma dose e outra, perdão, por entre uma cena e outra, as incertezas tornam-se certezas, as mentiras tornam-se verdades, o azedo torna-se doce, a ficção torna-se realidade, a D. Isabel Moreira faz mais uma tatuagem e o Prof. Louçã chega de fato e gravata ao Banco de Portugal. Pena o argumento pouco original: não é a primeira vez que uma comédia se transforma em tragédia, que a festa acaba numa conta de dezenas de milhar de milhões de euros por pagar ou que o Sr. Tiago, do segundo parágrafo desta história, espuma pela boca. Aliás, avaliando a nossa insidiosa atracção pelo abismo, nenhuma delas será a última.
Em modo lento. Lentíssimo. Mas regressando. Para outros tempos e novas lutas. Para os dias difíceis que aí vêm e que poucos querem ver.
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