Leio o último livro de Philip Roth (Némesis, da D. Quixote, título cujo significado daria pano para mangas), um regresso a uma fase recente muito existencialista. Talvez a idade já avançada do autor explique este fascínio com a morte e com a procura de respostas sobre questões que desde o início dos tempos o homem coloca a si mesmo: Qual é o sentido da vida? Qual é a justiça dos homens e dos seus deuses? O que fazemos aqui? Porque é que Deus castiga os indefesos? Porque é que Deus leva as nossas crianças em doenças estúpidas? (O que, no caso em apreço, tem que ver com um bairro judeu de Newark assolado, em 1944, por uma epidemia de poliomielite) Há algo ali que perturba. Que me perturba como poucas coisas na vida. Por mais voltas que dê, fico sempre com mais dúvidas do que com certezas. E as palavras escorreitas juntas em frases de uma beleza fria tocam no âmago das minhas próprias interrogações existenciais que, de tempos a tempos, me depredam um pouco preparado espírito, deixando-me abalado, ao mesmo tempo que me deixam triste porque há naquela estética literária algo de maravilhoso mas igualmente de desesperante. De cada vez que leio um Roth assim, digo a mim próprio que é o último que leio e que o abandono de vez, logo a ele que é só o meu escritor favorito. Mas o problema é que ele regressa sempre e torna-se um vício de que não me consigo libertar. Há grandeza naquelas palavras sábias porque só um grande escritor pode escrever assim. E hoje, se reflicto muito no assunto, sinto que podia enlouquecer porque ele tem o incrível dom de por vezes não me querer deixar adormecer. E é nessas alturas que olho à minha volta e sinto vontade de abraçar os meus. E de agradecer a Deus ter-me poupado, até agora, a tanto drama e pensar que tudo isto podia de facto ser bem pior.
Publicado originalmente aqui.
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