Ruth: I miss what we had.
Nathaniel: So find it again.
Há, perpassando por toda a nossa sociedade, um ressentimento crescente, a pior forma de encarar a vida. Esse ressentimento manifesta-se em toda a parte e em todos os patamares: no drama do desemprego, na crise financeira, na sensação de abandono, na interiorização da impotência face ao inevitável, no ruir dos projectos individuais e familiares. Ele, o ressentimento, anda por aí, cavalgando a onda, ganhando adeptos, recusando aliados e fugindo num caminho fácil. Mas o ressentimento subverte a nossa percepção e impede-nos de ver com clareza, confundindo-se facilmente com a inveja aos outros e ao que eles têm, criando ainda aquela necessidade de igualdade inalcançável, junto daqueles que antes não pensavam da mesma forma.
Dir-me-ão que os homens nascem iguais. Ou que deviam nascer iguais. A subversão destas ideias cria um paradoxo, principalmente à esquerda, impossível de resolver. Mas aqui o pensamento até é outro: se uns têm, porque é que eu não hei-de ter? Se uns mantêm, porque é que eu não hei-de continuar a ter? Estas são as perguntas que se fazem e as respostas saem rápidas na ponta da língua como saídas fáceis: revolução, nacionalização, sublevação, julgamentos sumários e outras dentro do género. No fundo, toda e qualquer saída passa por eliminar o “problema” com a maior eficiência possível.
Mas o pior mesmo, não é sentir esse ressentimento junto das classes populares. É senti-lo junto da classe média, onde a força da crise bateu com entusiasmo acrescido e as pessoas sentem mais de perto os seus efeitos: seja porque perdem dinheiro, seja porque vivem pior, seja porque têm menos conforto, seja porque compram menos coisas, seja porque o emprego sumiu-se na “crise”. Tudo isto são sinais da degradação acelerada de uma classe que se esfrangalha e se divide entre os que continuam nela e os que pura e simplesmente desaparecem ou vão desaparecer dela. É com isto que teremos de lidar. Com este ressentimento instituído e assente nas saídas agradáveis, como se houvesse saídas agradáveis, um terreno muito fértil para a demagogia. E isto já nem será uma mera hipótese académica. Com a falta de preparação da classe política, tudo isto já é mais que uma mera possibilidade. É quase uma profunda certeza.