Com a feira montada, o Bloco reuniu-se em congresso para escolher o sucessor (ou os sucessores) de Louçã. Pelo que vi e li, nas televisões e nos jornais, a seita continua exactamente igual ao que sempre foi: radical e com fortes desejos revolucionários, ainda que agora com liderança bicéfala, um pormenor não despiciente. Na realidade, do Bloco não se pode esperar mais do que este pântano onde ele se move sempre à procura da oportunidade política, da questão fracturante e da arregimentação de descontentes, tónicas presentes em quase todos os discursos dos seus responsáveis, um conjunto de burgueses bem instalados misturados com intelectuais de pacotilha a viver à sombra do Estado.
O mundo que o Bloco deseja já só devia existir nos livros de história, mas o mundo que o Bloco atormenta é real e torna-se, por vezes, vulnerável à sua lengalenga demagógica. Por entre as ruínas da democracia que o Bloco detesta, o Bloco sonha e acalenta erguer uma sociedade totalitária (sim, é disto mesmo que estamos a falar) ou uma nova espécie de fascismo (a palavra com que qualificam os seus adversários, mas que reflecte a sua própria imagem). Não nos deixemos iludir. Dali, daquele pálido encontro molhado pelas quase lágrimas de Louçã, não saiu nada de novo e muito menos de original. E mesmo quando a sua nova orientação é deitar o governo abaixo e fazer regressar uma maioria de esquerda, nem isso é uma originalidade. Olhando para o seu curto percurso, foi isso que o Bloco sempre fez, ao sabor dos seus amuos e do seu tacticismo político. No ou fora do governo, o Bloco só descansará no caos instalado e na abjuração da democracia. Isto, se entretanto, a própria democracia não o mandar à fava, como recentemente quase o mandou.
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