Com vídeo ou sem vídeo, com manifestações ou sem manifestações, o mais irónico em toda esta situação política e social é querer apontar o dedo a quem não tem culpa nenhuma do estado a que chegamos. Fazer da Sra. Merkel o bode expiatório dos nossos males e dos nossos pecados é fácil, útil, prático e muito popular mas, na verdade, nada disso é sequer próximo da realidade que exageradamente cultivamos por causa de um passado de despesismo e de regabofe, enquanto nos alimentávamos de um Estado monstruoso e sem qualquer possibilidade de subsistência. Querer agora sacudir a água do nosso capote colectivo é, não apenas contraproducente, como também um indício perigoso de que nos recusamos a aprender alguma coisa. E como todos nós já devíamos ter interiorizado, não me parece que a Sra. Merkel se importe muito com os nossos assuntos, com a nossa indisciplina e conflitualidade e, muito menos, com os “esclarecidos” bitaites do Dr. Seguro (fazendo de conta que não existe um passado) ou da extrema-esquerda em elevado estado de excitação (e pronta para a “revolução”). Aliás, a importância que a Sra. Merkel nos dá resumem-se primorosamente nas sete horinhas (das 11h44 às 18h51) que intermediaram entre a sua aterragem e a sua descolagem: uma reunião, um almoço, uma conferência de imprensa, um “encontro empresarial”, uma intervenção e uma fuga apressada para o aeroporto. Depois do exagerado espectáculo promovido pelo empolamento comunicacional (que não distingue a ilusão da realidade) e depois de ver muitos cuspirem na mão que [ainda] os alimenta, não acredito que a senhora volte tão cedo. E cá para nós, faz ela muito bem.
Blogues Madeirenses