Presumo que o Dr. Costa, mais a extraordinária câmara em que manda,
viva obcecado com a novidade que segue com fúria cega, principalmente se essa novidade vier de longe e servir para mostrar o seu “cosmopolitismo” e a sua venerada e vazia ideologia. Para além da inusitada impreparação, exibida semanalmente num programa de televisão, para exercer qualquer cargo importante, o mesmo Dr. Costa, que já antes sonhava com uma cidade um dia por ano sem carros, agora, também quer uma cidade todos os dias do ano sem carros... de gente pobre.
Num país a empobrecer a olhos vistos, nada como ter um político empenhado em resolver um problema, atacando-o pela raiz, ao mesmo tempo que mostra elevada preocupação com a vida dos outros, um sinal evidente que não tem nada que fazer com a sua. No fundo, no entender do Dr. Costa, se não podes acabar com os pobres, confina-os a uma zona de onde eles não possam passar com as bugigangas que lhes atestam a sua condição, principalmente se essas bugigangas expelirem fumo preto exagerado num passeio dominical ou numa aceleração sem mudança engatada.
Com a sobranceria habitual, o Dr. Costa não resolve, como é óbvio, o problema, mas inventa uma quase original solução. Na verdade, mantendo tudo longe da vista, o Dr. Costa mantém também tudo longe do coração que, por acréscimo, baterá melhor. E se os tempos que correm estão perigosos para carros com mais de vinte anos, reconheça-se que não enviá-los directamente para a sucata, como implicitamente o Dr. Costa deseja, acaba por ser uma sorte. Vale que não viver numa cidade gerida pelo Dr. Costa, também.