“The happy life be these, I find.
The riches left, not got with pain
The fruitful ground,
The quiet mind.
The equal friend,
No grudge nor strife
No charge of rule nor governance.
Without disease, the healthful life.
Wisdom joined with simplicity.
The night discharged of all care.
The quiet mind."
O Público informa-me que ontem fez 38 anos que o primeiro livrinho de cima foi publicado em França. O seu autor chama-se Alexandre Soljenitsine e foi um conhecido dissidente soviético que viveu, por experiência própria, o inferno do Gulag, os conhecidos campos de concentração soviéticos responsáveis por milhões de mortos. Mostrar o que os grandes escritores representam é fundamental. Mas mais fundamental ainda é todos percebermos que certos relatos entram-nos na espinha e provocam verdadeiros arrepios. Porque aquilo que ali está não é ficção. É a realidade nua a crua de variados infernos que o engenho e a maldade humana criaram na terra. E no dia em que deixarmos de ter memória, e preferirmos voltar a passar pelas experiências que afirmamos não querer nunca mais, então é sinal de que estamos prontos para nova carnificina.
Depois da arma secreta capaz de provocar terramotos, agora é a arma secreta capaz de provocar cancros nos líderes sul-americanos. A idiotia instituída é um céu sem qualquer limite e os limites da credulidade das pessoas um poço, muito provavelmente, sem qualquer fundo. Pena que ainda não haja armas secretas capazes de eliminarem à nascença balelas dignas da Twilight Zone e de demonstrarem inequivocamente o modo como alguns sobrevivem no lodo da propaganda política. Pior mesmo, é a "importância" que estas notícias têm e os seguidores cegos que as suportam e ampliam. O mundo deve mesmo acabar em breve.
Num país onde as coisas raramente funcionam, notícias como esta não são estranhas e muito menos raras. Aliás, se há pormenor em que somos realmente bons é neste de abdicarmos rapidamente daquilo que antes era (ler medida do governo anterior) uma imagem de um Portugal moderno e europeu. Ainda que assente numa semi-fraude, não deve vir daqui grande mal ao mundo. Só que, no fundo, tudo isto representa mais dinheiro deitado fora e mais tempo inevitavelmente perdido. E quando assim é, temos legitimidade para perguntar porque é que se brinca desta forma com recursos cada vez mais escassos.
Não resta qualquer possibilidade de ainda tentar perceber os maquinistas da CP. De facto, a pouca-vergonha é tanta que a coisa já só endireita metendo esta gente na ordem e promovendo o despedimento unilateral de metade da trupe para que sirva de exemplo aos restantes. Isto assim não pode continuar. E se tivessem um mínimo de noção do ridículo, nem brincariam com os milhões que por aí andam, massacrados e sem dinheiro e que não têm estas regalias despropositadas e estes ordenados chorudos. Por certo, se estão descontentes, as coisas até são mais simples: vão-se embora e dêem o lugar a outros. Tudo se resolve.
Não sei se alguns têm a mínima noção da realidade em que vivemos e dos problemas que enfrentamos. De qualquer forma, alguma culpa terão no actual estado a que chegámos, não estivéssemos todos nós empedernidos a ouvir os grandes conselhos que ao longo dos anos nos conduziram ao panorama actual que, diga-se de passagem, não é extraordinário no bom sentido. De qualquer forma, apenas para dizer, que começo a ficar farto deste triste joguinho do fica ou sai do euro. Deixem-nos da mão. Porque já chega.
Aquilo que parecia estupidamente simples para os ingleses – a rejeição total de novos tratados – é afinal mais complicado do que parece uma vez que o Vice-primeiro-ministro Nick Clegg, líder dos liberais democratas da coligação do governo, já veio afirmar em entrevista à BBC que os resultados da cimeira “colocam o Reino Unido em risco de ficar isolado e marginalizado no seio da União Europeia”. Talvez valha tudo para emparelhar os cordeiros enquanto se começa a transmitir à opinião pública que tudo isto não é mais do que uma questão de teimosia pessoal com graves consequências futuras. Mas há aqui qualquer coisa que não bate certo porque não parece verosímil que os dois partidos da coligação não tivessem conversado antes e durante a cimeira sobre as possibilidades em aberto. Fica, pelo menos, e em resumo, a demonstração brutal de que certas coligações só existem graças aos interesses estratégicos pontuais e efémeros que têm mais que ver com a sobrevivência política imediata do que com o verdadeiro interesse público. O Dr. Passos que aprenda gratuitamente esta importante lição.
Neste país, ou as coisas são feitas demasiado depressa, ou as coisas são feitas demasiado devagar. Não há meio termo, nem meia solução.
Anos e anos de paciência e de dedicação, fizeram de Mitrokhine um verdadeiro copista dos tempos medievais. E ele copiou muito, à mão como é óbvio, e com medo (porque não havia estes processos modernos e porque ele nunca se arriscaria a deixar vestígios), escondendo o que copiava debaixo do chão em casa e os originais debaixo da roupa, quando os retirava ou os voltava a meter no seu local de trabalho. Foram milhares de documentos ao longo de vários anos. Um dia, mais desiludido do que habitualmente, decidiu que já chegava e preparou com frieza a fuga para o Ocidente. Com ele levou o espólio, ou parte dele, porque outra parte já havia sido levado pelos serviços secretos britânicos. É talvez a maior fuga de informação secreta da história. E ajuda-nos a compreender melhor os processos internos e externos soviéticos, o modo de pensar dos seus principais líderes, os meandros burocráticos de uma sociedade totalitária e a própria Guerra Fria. Não se sabe o quanto e o quê ainda ficou por publicar. Mas o que aqui está tem significado (ainda que possa ser relativizado porque se baseia numa única fonte) e tem valor. Nem que seja pela imensa coragem necessária para levar a cabo esta extraordinária odisseia.
Ao renunciar ao seu ordenado de primeiro-ministro, o Sr. Monti revela 4 coisas: (1) que se julga moralmente superior ao comum mortal; (2) que tem uma necessidade absoluta de encontrar legitimidade onde sabe não ter nenhuma; (3) que a política afinal não é para todos e só pode ser exercida pela grandeza moral de alguns (uma espécie de casta) arrogantemente desprendidos das necessidades terrenas; (4) que a demagogia e o populismo barato não são exclusividade dos políticos. Agradeçamos ao Sr. Monti este momento quatro em um.
Ontem, dia da Restauração, o dia foi aproveitado para que alguns se insurgissem contra o fim do feriado. O presidente da Associação História da Independência de Portugal (?), João Alarcão Troni, disse, por exemplo, que o fim do feriado era um “murro ao patriotismo”. O Sr. José Pinto Coelho, do PNR, por seu turno, considerou o fim do feriado como “uma barbaridade”, propondo que se acabe antes com o 25 de Abril “porque é o único feriado que não nos faz falta nenhuma”. Infelizmente, apesar de todas estas diatribes nacionalistas e este espírito meio desconchavado e medieval, nenhum dos dois percebeu que não é o fim de um feriado que nos deixa mais ou menos independentes. Vivendo com as ordens de funcionários superiores, há muito que trocamos o orgulho da “independência” (sob qualquer forma) por dinheirinho fresco a juros modestos. E se o programa da troika assinado e aceite pelos principais partidos, não era suficiente para que todos nós entendêssemos o que está em causa, hoje, a D. Merkel da Alemanha, já veio assumir que quer uma refundação dos tratados para meter, presumo que de uma vez por todas, a gentinha indisciplinada na ordem. Portanto, se antes do anúncio, o que restava da nossa soberania era já manifestamente muito pouco, agora, depois do anúncio, parece-me evidente que será manifestamente nada. Logo, o dia da restauração é uma falácia. E é só a primeira delas.
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