As argoladas são tantas que poucas desculpas sobram. Num período de enorme sensibilidade, em que o povo se revolta facilmente perante os sacrifícios impostos pela necessidade, persistir neste tipo de artimanha não vale de muito. E quem procura a credibilidade não defende uma coisa para si e outra coisa diferente para os restantes. Ser governante, afinal, ainda devia ser um cargo de elevada dignidade e de enorme exemplaridade de conduta. Temo que, perdida pelas frequentes entrevistas de fundo aos jornais, a ministra acabe, depois de tanta agitação e promessa, perdida num labirinto ou como uma montanha a parir um rato. É que a situação como está já não se aguenta. É pedir muito?
Pulido Valente, durante as suas crónicas deste fim-de-semana, revelou primorosamente as razões que levam a suposta esquerda que este senhor representa, a ser uma insignificância sem qualquer valor ou futuro. Ele bem que se esforça, mas sem nada a que se agarrar que não seja uma triste miragem, resta-lhe manter no ar esta comédia romanticamente preparada para durar até ao seu esperado ocaso. O senhor, confirma-se na notícia, nem é meia nulidade. É mesmo nulidade completa. Que tristeza.
A falta de notícias deve ser primorosa para acicatar ânimos e propósitos obscuros. Resume bem o modo como certo jornalismo é manipulado por interesses dúbios e estranhos ao normal funcionamento da democracia. Neste campo, Pacheco Pereira tem toda a razão. E ainda mais alguma. Mas é mais do que certo que o anonimato ganha importância acrescida numa sociedade mediatizada que abriga no seu seio não apenas bisontes megalómanos convencidos de superioridade como também insidiosos ignorantes com soluções de bolso para os males que povoam o mundo e os arredores. Aliás, basta ver as caixas de comentários de alguns jornais online (nem se percebe como permitem isto!) para se perceber o maravilhoso mundo criado pela educação, e a inveja, em Portugal. Não saímos da cepa torta. E a esta velocidade, só nos resta continuar a cair. Que seja de uma vez que isto já não se aguenta.
Entretidos com as reformas do Presidente e com as suas pavorosas declarações, os portugueses utilizam a imaginação para fazer chegar a sua dose de indignação ao próprio PR. Facebook, flash mobs, peditórios, reuniões e mini-manifestações, tudo serve para dar asas à imaginação. Certamente, o PR não agradece, mas agradece quem tem de encher chouriço com coisas que não deviam merecer mais que um dia de atenção. Entretanto, se o indígena fosse capaz de utilizar a imaginação para criar e transformar o país, tal como usa essa mesma imaginação na sua capacidade protestativa e interventiva, talvez não andasse tão preocupado com a reforma do Dr. Cavaco, com as palavrinhas idiotas que proferiu (sim, uma manifesta falta de consideração) nem com a inutilidade aparente da sua função. A vida tem ser para a frente, que isto para trás e para os lados, e a viver mais preocupados com os vizinhos, não vai lá.
O 5 de Outubro não faz qualquer diferença por razões históricas. O 1º de Dezembro também por razões melhores ainda. Mas se pelo meio, e absorvido com estas questões menores, o ministro também decidir eliminar o país, por mim tudo bem, desde que se despache e acabe com esta indefinição. Agradecia era que de uma vez por todas, e agora que vão acrescentar mais 28 horinhas de trabalho anuais que muito jeitinho vão dar para acabar com o défice excessivo, se termine com esta obsessão idiota com feriados, pontes, férias e afins e se comece a mostrar os resultados positivos desta austeridade imposta e autoimposta. Se não for pedir muito. Obrigado.
Vendo esta política feita de negócios onde os interesses obscuros dominam e fazem escola. Estamos no caminho errado quando a troco de umas patacas continuamos a legitimar certos comportamentos, apenas para parecermos brandos, de bons costumes e muito certinhos no respeitinho perante os novos senhores. A real politik vale muito nos tempos actuais, mas certas coisas deviam ter um travão em nome da decência. A liberdade de opinião é essencial para que haja clima de verdadeira liberdade. Que alguns não percebam isso deveria ser problema apenas deles. Mas quando esses alguns são responsáveis por um suposto serviço público e não o aceitam, então a coisa passa a ser problema nosso.
A Europa unida fez renascer uma Alemanha poderosa, sinal de que o tempo cura tudo e sinal de que o tempo repõe a normalidade das coisas. Mas ir à Alemanha trocar umas ideias “informais” sobre alguns assuntos, não maximiza a viagem e muito menos lhe dá um ar de importância. Nas mãos de quem manda e dispõe, e que nos impõe tudo e mais alguma coisa, a nossa independência, enquanto nação, é uma graciosa falácia que não provoca um mínimo de estorvo, o que é razão suficiente para a nossa sublime insignificância. Podemos até ser recebidos, cumprimentados e ouvidos, mas nada disto melhora a imagem que temos e nada disto muda alguma coisa naquilo que há muito está decidido por eles, por aqueles que verdadeiramente mandam. Para isso, ainda falta muita dureza e muito caminho árduo. E isto, claro, se a dureza e o caminho árduo nos levarem lá. Porque entre atalhos e carreiros o difícil mesmo é descortinar se vamos no caminho certo.
Parece que o parlamento europeu tem novo presidente. O senhor chama-se Martin Schulz, é alemão e membro do partido socialista europeu, e substitui o Sr. Jerzy Buzek, polaco e membro do partido popular europeu.
Certas notícias talvez sejam escritas para não ferir susceptibilidades. Mas aquilo que aqui está não é bem aquilo que se passou. Eu não chamaria empurrão a uma evidente, e despropositada, agressão.
Numa tentativa de campanha publicitária recente a Mercedes-Benz agarrou na “mítica” imagem de Che Guevara e colocou-lhe na boina, em substituição da célebre estrela vermelha, o seu símbolo. A coisa motivou protestos, nomeadamente da comunidade cubana exilada nos EUA que não achou piada à utilização da imagem de um conhecido psicopata numa campanha publicitária. A Mercedes entretanto recuou e pediu desculpa, mas a imagem da marca ficou naturalmente manchada por esta tentativa de chico-espertismo e pela falta de estética exibida na horrorosa campanha.
Quem sabe um pouco de história, sabe que o Sr. Guevara, para além de médico nas horas vagas e revolucionário nas restantes, não era propriamente um adepto feroz dos símbolos capitalistas e muito menos dos supostos luxos da burguesia, classe a que embora pertencesse, ele gostaria de ter varrido da face da terra utilizando métodos digamos que imaginativos. Para além do mais, o Sr. Guevara costumava eliminar, na sua gloriosa caminhada revolucionária, a gentinha incómoda, demonstrando que um empecilho que não concordasse, no plano teórico, com o ponto de vista da revolução tinha, no plano prático, uma solução muito rápida.
Só que a coisa merece ainda, e quanto a mim, outra atenção. Num mundo pejado de moralistas, certas coreografias mantém-se estranhamente no tempo assumindo-se como ícones de gente que, num limite, se pode apelidar de muito ignorante. E se toda a extrema-direita e os seus símbolos são hoje, e bem, fortemente combatidos e condenados, não se percebe então porque é que os símbolos de um comunismo agressivo, violento e de assassínio em massa sobrevivem nas ruas das cidades expostos ao vento e nas inestéticas t-shirts de adolescentes imberbes. E, já agora, e no que seria uma sublime ironia, quase nos próprios cartazes de uma conhecida marca de luxo.
Aprendendo muito e relembrando igualmente muito. Gosto de livros de história escritos com esta simplicidade e com esta clareza.
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