Quarta-feira, 15 de Fevereiro de 2012
No dia em que a tróica aterra para avaliar contas, índices e indicadores, boa parte dos portugueses está agitada e absorvida pelo mundo da bola. Isto tem que ver com dois motivos principais: primeiro, porque o Benfica joga esta noite para a Liga dos Campeões sob previsões de frio e muita neve e, segundo, pela inevitável chicotada sportinguista que tem levado a imaginação indígena ao topo do céu. A bola mantém, como se comprova, uma função social essencial: entretém o pessoal e faz esquecer um pouco o drama indígena o que, em circunstâncias normais, não tem mal absolutamente nenhum. Marx dizia que a religião era o ópio do povo porque o alienava, porque o desviava das suas verdadeiras causas e porque o orientava para o domínio do espiritual e do intangível. Não vou tão longe e não digo que o futebol seja igual, embora um certo fanatismo me pareça ser de todo irracional e incompreensível e certos assuntos merecedores de um longo e inevitável bocejo. Mas reconheça-se que dá jeito haver jogos do Benfica e as infinitas e risíveis trapalhadas do Sporting. É que assim quase ninguém dará pela chegada da tróica e, imagino, quase ninguém dará pela sua partida. O que não sendo necessariamente bom, também não é necessariamente mau.
Terça-feira, 14 de Fevereiro de 2012
Espero que os livros, para além de cores e encadernações modernas, também levem ouro ou prata. Nunca se sabe se em caso de necessidade não dão para derreter e fazer uns trocos. E se queimar livros ainda pode ser considerado uma heresia, parece que queimar dinheiro não o é. O que é pena. Mas num país de ricos, onde a austeridade não chega a todos os gabinetes, tudo é graciosamente desculpável. O Dr. Relvas apenas mantém a bitola em ritmo elevado.
Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2012
Certa gente devia ter tento na língua e vergonha na cara. É o caso dos indefectíveis de Sócrates que passam a vida a infernizar, internamente, os socialistas e, externamente, os restantes portugueses que não têm nenhuma saudade da figura e do que ela representou. Só um nítido problema com a realidade justifica semelhantes dislates e a incessante procura por um protagonismo que há muito devia estar morto e enterrado. Esta gente não se enxerga e muito menos se sente, já que seis anos de drama parecem não ter chegado para um eclipse total. Assim, os fantasmas prosseguem alegremente a sua caminhada entre os mortais, atrapalhando, vociferando e comprometendo. É por isso que não se entende a necessidade de continuamente se dar espaço de opinião a quem se limita a querer ressuscitar um passado de má memória ou a demonstrar porque foi corrido em eleições. Sejamos minimamente sérios. E sejamos minimamente decentes. Já que desta gente nem mínimos se pode esperar.
Não se espantem que as próximas eleições gregas sejam marcadas pela subida estrondosa dos movimentos extremistas de esquerda e, principalmente, de direita. O barril de pólvora, compactado e alimentado pela indiferença e insensibilidade gerais, está lá prontinho a explodir. Só falta mesmo acender o rastilho para a morte, não alegórica, do berço da nossa civilização e dos princípios pelos quais nos regemos. Depois deles, depois dos gregos, outros se seguirão. A Grécia é somente uma previsível primeira vítima e um exemplo declarado do nosso declínio civilizacional. E se do caos nasce sempre uma nova ordem, é também por isso que nos devemos preocupar. Convém ficar atento.
Sexta-feira, 10 de Fevereiro de 2012
Debaixo deste frio já invernal, a rua mantém-se viva e serena. Fora a azáfama natural de uma manhã quotidianamente igual a muitas outras, só os rostos carregados, as olheiras naturais, os casacos pesados e os passos apressados que fogem dos ligeiros pingos da chuva denunciam a confiança e a certeza de um novo dia. Gosto de sentir as manhãs em profunda aceleração porque a vida, num estado normal, é um prodígio que merece atenção. E gosto de sentir que na rua, enquanto a exploro também com destino certo, somos todos rostos de uma mesma multidão.
Quinta-feira, 9 de Fevereiro de 2012
É bom que frequentemente nos lembremos que em democracia, devemos temer a magistratura e não os magistrados. Quem julgou que devia ser o contrário, enganou-se redondamente. Certos direitos, e já agora certos deveres, são inalienáveis. E certos fins não podem justificar os meios. A bem da civilização em que nos fundamos, a bem dos princípios que defendemos, chega ao fim esta triste cruzada individual. Foi ele que colheu a tempestade que semeou.
Ontem as declarações de Merkel passaram quase incólumes perante o situacionismo estabelecido entre os partidos do arco do poder. Hoje, com um amanhecer mais violento e mais incisivo, e que de uma maneira mais ou menos obtusa, colocava toda a iniciativa política de um país em causa, as coisas mudaram, finalmente, de tom. Agora parece que certas declarações já são motivo de repúdio e são um indício claro de ingerência em assuntos internos. O que uma boa noite de sono faz!
Deve ter havido novos problemas de tradução. O que começa a ser recorrente e corriqueiro. Destaque-se o facto de as declarações terem sido emitidas por um porta-voz. Sempre se pode, mais tarde, vir ainda dizer que não era bem aquilo que se queria dizer. E assim vamos cantando e rindo.
"Considerar-me-ia o mais feliz dos mortais se pudesse fazer com que os homens lograssem curar-se dos seus preconceitos. Chamo aqui preconceito, não ao que faz com que alguém ignore certas coisas, mas ao que faz com que alguém se ignore a si próprio" - em O Espírito das Leis, de Montesquieu.
Independentemente do contexto em que foram proferidas e exploradas as declarações do Dr. Passos Coelho, acho que é realmente importante os portugueses serem “menos piegas” e “mais exigentes”. Aliás, considero absolutamente urgente que os portugueses sejam “menos piegas” e “mais exigentes” para com o governo liderado pelo Dr. Passos Coelho.
Quinta-feira, 2 de Fevereiro de 2012
Já se viu o verdadeiro estado do PS quando gente deste calibre perora sobre aquilo por onde também passa parte do futuro do próprio partido. Reparem no argumento primitivo de quem se limita a abanar a cabeça e a sobreviver por entre escândalos, enquanto se mantém confortavelmente sentado nas cadeirinhas que dão boas remunerações. O senhor nem é conhecido por nada de positivamente relevante, nem tem, parece-me, categoria mínima para avaliar uma escolha do calibre de Manuel Maria Carrilho que, goste-se ou não, concorde-se ou não, é um verdadeiro intelectual, que pensa por si e que gosta de agitar consciências. Por entre tanta trapalhada, António José Seguro tem aqui uma boa escolha para o tal laboratório de ideias que quer promover. Um Carrilho vale bem mil Lellos.
É tudo uma questão de acertar contas com o passado talvez com o intuito de se enfrentar melhor o presente. E se vocês chamaram o meu, eu também posso ajudar a chamar o vosso. Belo argumento.
É curioso como a necessidade de ter a “confiança dos mercados” se mantém como ponto central do discurso e da acção política na Europa. Repare-se que os “investidores” que por aí fazem muito dinheiro graças à especulação e que enriquecem à custa da exploração das próprias debilidades dos Estados, são os únicos que aparentemente beneficiam das regras deste jogo viciado onde só os Estados (e claro, os povos) perdem. Em resumo: todo o discurso e acção dos políticos europeus passa por “manter a confiança” ou por “conquistar a confiança dos mercados” porque só assim, presumo, eles (os “mercados” e os “investidores”) podem continuar a dar asas ao seu instinto predatório e prolongar o consumo dos parcos recursos ainda existentes. Há aqui qualquer coisa que não bate certo.
Quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2012
Com a crise instalada continuo a valer-me da imaginação e da aprendizagem que diariamente faço com o que outros idealizam (vulgo, cópia sem reconhecer direitos de autor). Há dias, por exemplo, folheando os jornais do meu descontentamento, notei que alguns portugueses preenchem tabelas de supermercado com a comparação dos preços dos produtos praticados nas diferentes superfícies. Parece-me, saliento, um bom método já que muito recentemente descobri que um mesmo produto (mesma marca e mesma quantidade) variava, entre uma superfície e outra, quase 3 euros (não estou a exagerar). Assim, se a necessidade aperta, o engenho torna-se indispensável. E, agora, já decidi que também vou construir a minha tabela para tirar conclusões objectivas das minhas experiências. Porque cêntimo a cêntimo, o que no caso mencionado até seria euro a euro, enche o português o carrinho do supermercado.