Terça-feira, 31 de Julho de 2012

 

O Governo apresta-se para falhar no seu objectivo principal, o do défice, o que implicará justificações paranormais (logo, inimputáveis aos próprios) e contextualizações onde as palavras e as expressões não têm os mesmos significados a que estamos habituados. Valendo o que vale, a teimosia terá sido, parte, desnecessária e os nossos problemas não estarão minimizados, antes ampliados, o que para os socratistas terá um sabor que julgo especial. Contudo, não esqueçamos quem nos trouxe ao lugar mais fundo do buraco, antes que entrem em demasiadas festanças e nas lutas pela liderança, como a que o Dr. António Costa de Lisboa entretanto inaugurou. Devo referir, apesar dos muitos erros cometidos, que aprecio o esforço do governo e a sua dedicação a uma causa que sendo correcta, não foi devidamente abordada. Relembro que este governo tem uma forte componente ideológica, goste-se ou não. Mas agora, no fim desta etapa, ainda vamos a tempo de parar e de redefinir um outro caminho. De outra forma, o que Passos Coelho e o seu governo consideraram a demanda por um novo início, não passará de mais um triste e malogrado fim. E aí, sim, tudo terá sido em vão.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 11:31 | link do post | comentar

Segunda-feira, 30 de Julho de 2012

Reparem bem na frase: "O objectivo do Governo para este ano é atingir 90,6 milhões de euros de receita com as multas de trânsito, o que a confirmar-se se irá traduzir num aumento de 14,7% em relação às receitas do ano passado, indicam os dados divulgados pela Direcção-Geral do Orçamento." Portanto, estamos conversados: o objectivo é mesmo o da caça à multa.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 17:30 | link do post | comentar

Quarta-feira, 25 de Julho de 2012

Como se já não bastasse os funcionários do Banco de Portugal terem ficado com os seus subsídios intactos – recorde-se que nenhum destes funcionários foi responsável pelo buraco no BPN, por exemplo – agora são também os seus pensionistas (dos mais bem pagos do pais, convém dizer) que ao abrigo de uma qualquer idiotia, podem vir a garantir que não vão perder os seus subsídios. Sobre isto o governo nada diz, garantindo num silêncio sepulcral e por arrasto, que outros se seguirão, como entretanto outros se seguiram, nas benesses e na excepção aos sacrifícios. Não se entende onde reside a justiça destas medidas que penalizam alguns e não todos. Aliás, não se entende as razões pelas quais ao abrigo da urgência nacional se coarctam direitos adquiridos para uns e não se mexem nos direitos adquiridos dos senhores do Banco de Portugal. Da minha parte, começo a ficar liminarmente farto destes artistas de variedades e da gentinha, que legitimada para o efeito, recusa-se cumprir com a sua função. No Estado não há uns mais do que outros. O resto, se ainda restar alguma coisa, é fado.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 11:51 | link do post | comentar

Terça-feira, 24 de Julho de 2012

 

Numa sociedade cada vez mais alicerçada em lugares-comuns, apática e influenciada pela voragem mediática que muito deturpa e que torna quase tudo lixo, ler este senhor é um enorme prazer e um modo feliz de escapar à monotonia dos dias. E este livro é um grande livro, bem executado e pensado, a que recorro algumas vezes quando procuro respostas.

Num tempo igualmente cheio de ignorantes armados em doutores, onde desconhecer o que fomos e ignorar o que somos é atributo essencial para o sucesso da comédia em exibição, não estranhemos então a suprema arrogância dos que se passeiam imbuídos das certezas efémeras e do ruído apocalíptico. Mas quem ousar querer ser diferente, pode começar por aqui. Afinal, conhecer melhor as instituições e as razões que, outrora, garantiram a nossa ascensão – competição, ciência, direitos patrimoniais, medicina, sociedade de consumo, ética no trabalho – pode ajudar a compreender melhor os motivos que, agora, nos levam a um tão acelerado declínio. Se ainda vamos a tempo, é que já não sei. No que vejo, no que sinto, no que penso, somos um caso perdido. Fica a tentativa.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 10:32 | link do post | comentar

Segunda-feira, 23 de Julho de 2012

 

O problema dos livros é que se acumulam muitas vezes sem a atenção devida. Neste momento, a lista de espera só contribui para o aumentar das torres que, por toda a casa, construo. Mas por vezes (ou talvez quase sempre), uma compra recente passa à frente de muito boa gente apenas porque me concentrei nela com afinco. Talvez não seja justo para todos os outros que fazem subir as torres, mas é assim que funciono. Este que aqui está na foto, é um trabalho de investigação notável de um perito em história militar. É uma leitura que recomendo porque demonstra sublimemente que na guerra é perfeitamente possível vencer todas as batalhas e ainda assim acabar derrotado.

 

Aníbal e os Barca (relâmpago em cartaginês) foram brutais na execução de um plano meticuloso conseguindo feitos notáveis. Aliás, Aníbal enquanto comandante transformou-se num verdadeiro pesadelo para os romanos, pouco habituados as tácticas militares empreendidas pelo mais célebre dos cartagineses, mas também dos seus irmãos e aliados. Só que, e apesar de tantos e tantos revezes (o maior dos quais, em Canas, onde os romanos perderam 48 mil soldados num só dia, naquele que é provavelmente o maior desastre militar da história), os cartagineses não contaram com a perseverança daqueles que acabariam por constituir o mais célebre império da história da humanidade: os romanos. Aníbal acabou por ser derrotado por Cipião, na Batalha de Zama, depois de 16 anos de guerra. Cartago rendeu-se e Roma impôs as suas duras condições. Terminava assim a segunda das três guerras púnicas, momento que o autor considera ser, devido à quantidade de homens utilizados e aos palcos de guerra onde se desenvolveu, como a primeira guerra mundial da humanidade. 50 anos depois, Cartago jazia sobre ruínas.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 10:45 | link do post | comentar

Quarta-feira, 18 de Julho de 2012

A igualdade, em teoria, pressupõe condições, na prática, socialmente impossíveis de alcançar. Aliás, a recente polémica com o problema da igualdade levantada pelo TC no que se refere ao corte nos subsídios é exemplo disso mesmo, porque coloca em causa a teoria (legalmente definida) e não a prática (quotidianamente sentida). Mesmo descontando que os juízes agem em causa própria (o que não deixa de ser um paradoxo), convém referir, contudo, que o Estado é o primeiro a tratar os seus funcionários de modo desigual. Começa nas corporações que têm obtido progressões e promoções quando a grande maioria está congelada no lugar há muito tempo; continua quando fomenta excepções (na TAP, Caixa Geral e Banco de Portugal, por exemplo) no corte dos salários e dos subsídios; e finaliza quando contrata a valores abaixo do habitualmente pago para as mesmas funções. O problema é então político, mas também moral. E assim voltamos ao mesmo: se uns têm, porque razão os outros não hão-de ter?



publicado por Bruno Miguel Macedo às 12:47 | link do post | comentar

Quer na tradição judaico-cristã, quer na tradição humanista, o conceito de igualdade exprimia-se em valores espirituais absolutos: igualdade perante Deus e igualdade na nobreza de espírito capaz de viver com verdade. Com as sociedades de consumo (egoísmo, niilismo, homem-massa), e tal como Nietzsche sabiamente previra, estes valores alteraram-se no seu estado puro e perderam-se na falácia do relativismo moral. A igualdade ressurgiu então no materialismo, na justiça social, na igualdade de oportunidades, na igualdade perante a lei e com as premissas (1) de que se um tem, os outros também têm de ter, (2) que qualquer um pode, e deve, ter tudo, e (3) que todos devem partir em igualdade de condições. Não se estranhe então a celeuma legal que o conceito levanta. Perante um paradoxo evidente, e continuando tudo como está, o problema é democraticamente inultrapassável.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 12:46 | link do post | comentar

Sexta-feira, 6 de Julho de 2012

 

Não concebo a ideia de que um político é melhor ou pior por ter ou por não ter uma licenciatura. Aliás, há por aí muitos analfabetos encartados - alguns deles até com vários cursos e diplomas, dos verdadeiros e dos feitos em tempo útil e real - e não consta que isso lhes dê algum género de capacidade excepcional. O problema não está, portanto, no “ter” ou “não ter” curso. Está no modo como se “obtém” esse curso e depois no modo como se “utiliza” esse curso em benefício próprio. E nesse aspecto essencial, não há no caso Relvas (como já não havia no caso Sócrates) nenhuma volta a dar.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 10:37 | link do post | comentar

Método simples – em dez passos - para a aplicação da austeridade pelo Governo sem levantar dramas ou provocar sarilhos.


1- Divide-se (para reinar) os trabalhadores portugueses com base na ideia de que há duas castas entre os trabalhadores portugueses: a casta pública e a casta privada.
2- Ataca-se primeiro a casta pública, colocando a casta que não é tão afectada pela austeridade do lado do governo, uma vez que se livra de boa parte dos sacrifícios.
3- Aplica-se a austeridade à casta pública congelando salários e progressões, aplicando impostos extraordinários, retirando direitos consagrados constitucionalmente e fazendo desaparecer subsídios.
4- Entretanto, o país mergulha numa crise ainda pior, onde a receita decresce preocupantemente e os resultados são desastrosos.
5- O Governo conclui que para se livrar da crise é preciso aplicar mais austeridade.
6- Como não é possível ir buscar mais dinheiro à casta que primeiro contribuiu, o governo saliva por ir buscar dinheiro à casta que anteriormente ficou de fora.
7- A casta que primeiro sofreu, sente que afinal a austeridade é para todos e fica do lado do governo; a casta que primeiro ficou de fora, sente na pele que afinal não era imune, e fica contra o governo. As posições invertem-se.
8- As duas castas comem e calam.
9- O governo vence.
10- Todos perdem.

Nota: qualquer semelhança com a possibilidade de isto acontecer num futuro próximo, é pura coincidência.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 10:35 | link do post | comentar

Segunda-feira, 2 de Julho de 2012

 

A atleta do Maratona, Ana Dulce Félix, sagrou-se ontem campeã europeia dos 10000 metros nos Europeus de Atletismo disputados em Helsínquia, alcançando a terceira medalha da competição para Portugal depois de Sara Moreira (bronze nos 5000 metros) e de Patrícia Mamona (prata no triplo salto). Num tempo de total tirania futebolística, onde a pressão comunicacional nos impede, por vezes, de respirar, provocando inclusive ligeiros sintomas de claustrofobia tanta é a idiotia expelida e amplificada, registe-se o brilhantismo destas três atletas. Num país desigual, onde o futebol, apaparicado e endeusado, tudo pode e consegue, inclusive fazer esquecer que há mais vida além da bola, nada como uma bela bofetada sem luva. Porque enquanto uns prometem muito, mas não trazem nada; outras, sem prometer nada, trazem muito. Obrigado.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 12:29 | link do post | comentar

Publius Cornelius Tacitus
To ravage, to slaughter, to usurp under false titles, they call empire; and where they made a desert, they call it peace.
Outubro 2017
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
10
11
12
13
14

15
17
18
19
20
21

22
23
24
25
26
27
28

29
30
31


posts recentes

Os incêndios que matam pe...

A síndrome socialista

Soltar os cães

Um argumento

Regressando

Um papel

A cartilha

Prometeu

Um ou dois milagres

Uma nomeação

arquivos

Outubro 2017

Junho 2017

Março 2017

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Maio 2015

Abril 2015

Setembro 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

tags

anáfora

antonomásia

benevolentes

blanchett

bloco

cate

charme

dench

djisselbloem

eufemismo

eurogrupo

guerra

gwyneth

helen

jonathan

judi

littell

metáfora

mirren

paltrow

perífrase

porto

prosopeia

renda

sela

socialismo

twitter

ward

todas as tags

links
blogs SAPO
subscrever feeds