A entrevista dada ontem por Passos Coelho não foi brilhante (longe disso) mas atingiu plenamente o seu objetivo político: amarrar Portas e o CDS/PP às medidas avançadas pelo Governo. De forma inteligente, Passos soube explicar que nenhuma iniciativa governamental é feita (como não o foi “ontem” e como não o será “amanhã”) sem o conhecimento dos partidos da coligação e sem a sua total anuência. Por mais que se tente por aí abalar o espírito da coligação, ficou esclarecido que os laços que unem os dois são, por agora, mais fortes do que qualquer contestação interna existente, com ou sem razão. Isso não significa que não possa haver um recuo nas medidas anunciadas e não significa que Portas não possa mesmo vir a roer a corda se sentir a sua própria sobrevivência em causa. Mas o que é certo é que no actual panorama político, Portas não tem grande saída. Aliás, tal como Passos. Com o grau de insatisfação que se vai alastrar às ruas, provocar uma queda do governo agora é o mesmo que colocar o PS de Seguro (um indivíduo que ontem parecia estar a fazer uma leilão numa feira) no poder. Perante a ameaça que outrora parecia uma impossibilidade notória, o tango continua. E é preciso dois para que ele continue.
Vivo rodeado de máquinas. Dizem-me que a inovação tecnológica assim o obriga e que a única coisa que me resta fazer é esta adaptação aos novos tempos. Não sei. Como bom conservador que sou, sou um notável resistente à mudança tecnológica, embora cedo ou tarde acabe por me embrenhar nela, mas não sem antes fazer muitos telefonemas para perceber como as coisas funcionam. Sou um chato. Um verdadeiro chato para os meus amigos que, com santa paciência, me aturam as aventuras tecnológicas. Mas a verdade é que ando mesmo embrenhado em máquinas: computador, telemóvel, carro, televisão, box de TV (uma invenção maravilhosa), micro-ondas e outras diferentes panóplias, algumas bem inúteis por sinal.
Em tempos, esta senhora foi candidata a primeira-ministra. Perdeu porque os portugueses optaram pelo vendedor de banha de cobra em detrimento de quem lhes falava a verdade e lhes propunha um plano que não era cor-de-rosa e que incluía aquil
A política doméstica, cada vez menos importante e cada vez mais executada por gentinha menor, continua a viver da intriga palaciana. O que aqui está, esta notícia feita para a comunicação social, é um sinónimo evidente de que numa reunião à porta fechada ninguém se encontra seguro e que tudo se sabe em tempo real para gáudio da humanidade. Naturalmente que se conta também o que interessa e que se esquece, provavelmente, o que não interessa. Há muito, muito tempo, um escorpião precisava de atravessar o rio. Pediu ajuda a um sapo que, desconfiado, esteve para recusar. O resto da fábula, da história, todos conhecem e sabem como termina. Na verdade, este espírito de divisão onde alguns só querem safar o pescoço ao mesmo tempo que tentam apagar a memória do passado (Onde está o “patriotismo”? Onde está a lealdade? Onde está a cumplicidade?) ilustra que agora só muito dificilmente se aguentará este barco. E sendo assim, tal como na fábula, nenhum deles chegará ao outro lado do rio.
Bem pode o ministro Relvas fazer de conta, agora, que voltou a existir, depois de um ligeiro desterro por terras estrangeiras. Infelizmente para ele, já todos percebemos uma coisa: ele é politicamente relevante dentro do governo, mas totalmente irrelevante fora dele.
A nova versão do Secret Story, de Teresa Guilherme, garante já ter mais de oitenta mil inscritos. O feito já teria contornos de gravidade se tivesse quinhentas alminhas dispostas à figurinha do costume (geralmente assente num adolescente mal-educado, porco e bronco). Mas ter oitenta mil merece, não só o estatuto de epidemia, como também um muito provável estudo sociológico.
Na verdade, quando oitenta mil portugueses estão disponíveis para vender a alma, quais Faustos, ao Diabo, exibir uns grunhidos cavernosos parecidos com linguagem e satisfazer o voyeurismo de milhões de outros, há uma clara certeza de que nenhum deles entende o seu triste papel e muito menos de que entende a função circense para que é manipuladoramente escolhido.
Neste momento em que escrevo, não dispensava apenas a RTP que me esvazia os bolsos à razão de 340 milhões de euros/ano. Dispensava também as restantes que a troco comercial desenvolvem um retrato esclerosado de um país cultural e socialmente arruinado, alimentado por patetas que se deixam voluntariamente fechar numa casa. E investia, por atacado, num manicómio. Que para o caso em apreço tinha de ter pelo menos oitenta mil lugares disponíveis e de permitir a visita alternada de milhões de outros. Como é óbvio, seria absolutamente obrigatório alimentar os animaizinhos em exibição.
Talvez hoje, a imagem mais definidora do povo português seja a imagem de Sísifo acartando a pedra montanha acima para depois vê-la, arrastada, montanha abaixo. E uma vez, e duas vezes, e três vezes, e para todo o sempre. Ó deuses: como vos poderemos apaziguar?
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