Sexta-feira, 14 de Setembro de 2012



A entrevista dada ontem por Passos Coelho não foi brilhante (longe disso) mas atingiu plenamente o seu objetivo político: amarrar Portas e o CDS/PP às medidas avançadas pelo Governo. De forma inteligente, Passos soube explicar que nenhuma iniciativa governamental é feita (como não o foi “ontem” e como não o será “amanhã”) sem o conhecimento dos partidos da coligação e sem a sua total anuência. Por mais que se tente por aí abalar o espírito da coligação, ficou esclarecido que os laços que unem os dois são, por agora, mais fortes do que qualquer contestação interna existente, com ou sem razão. Isso não significa que não possa haver um recuo nas medidas anunciadas e não significa que Portas não possa mesmo vir a roer a corda se sentir a sua própria sobrevivência em causa. Mas o que é certo é que no actual panorama político, Portas não tem grande saída. Aliás, tal como Passos. Com o grau de insatisfação que se vai alastrar às ruas, provocar uma queda do governo agora é o mesmo que colocar o PS de Seguro (um indivíduo que ontem parecia estar a fazer uma leilão numa feira) no poder. Perante a ameaça que outrora parecia uma impossibilidade notória, o tango continua. E é preciso dois para que ele continue.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 15:34 | link do post | comentar

Vivo rodeado de máquinas. Dizem-me que a inovação tecnológica assim o obriga e que a única coisa que me resta fazer é esta adaptação aos novos tempos. Não sei. Como bom conservador que sou, sou um notável resistente à mudança tecnológica, embora cedo ou tarde acabe por me embrenhar nela, mas não sem antes fazer muitos telefonemas para perceber como as coisas funcionam. Sou um chato. Um verdadeiro chato para os meus amigos que, com santa paciência, me aturam as aventuras tecnológicas. Mas a verdade é que ando mesmo embrenhado em máquinas: computador, telemóvel, carro, televisão, box de TV (uma invenção maravilhosa), micro-ondas e outras diferentes panóplias, algumas bem inúteis por sinal.


Quando um tipo como eu vive rodeado de máquinas espera então que elas funcionem sobre qualquer circunstância. Tem que ver com a confiança que depositamos nas coisas. Assim, um tipo como eu entende que um carro tem de travar, que um telemóvel tem de telefonar e de ver a internet, que um computador tem de arrancar e guardar os documentos que precisa e por aí adiante.

O problema é a preguiça para os sinais. Se o carro chia deve significar que precisa de travões. Se o telemóvel está lento deve significar que precisa de ser mudado. Se o computador faz um barulho estranho que antes não fazia deve significar que é urgente fazer uma cópia de segurança de tudo o que se tem ali guardado.

Se à preguiça para os sinais, juntarmos a inércia declarada para a resolução do problema, o resultado pode ser um desastre de proporções bíblicas. Porque é preciso entender que quando uma máquina se queixa (barulho esquisito ou menor desempenho, semelhante a uma dor que um humano tenha) que há qualquer coisa de errado. E pronto: foi assim que depois de três semanas a fazer um barulho muito esquisito o disco do meu computador foi à vida, é totalmente irrecuperável e eu não tenho nenhuma cópia do que lá tinha. Extraordinário.


publicado por Bruno Miguel Macedo às 12:33 | link do post | comentar

Quinta-feira, 13 de Setembro de 2012

Em tempos, esta senhora foi candidata a primeira-ministra. Perdeu porque os portugueses optaram pelo vendedor de banha de cobra em detrimento de quem lhes falava a verdade e lhes propunha um plano que não era cor-de-rosa e que incluía aquil

o que muito bem conhecemos hoje: austeridade. No fundo, a maioria optou por continuar no sonho e subverter a realidade. A senhora, passados tantos anos, mantém-se acutilante, sensata e realista. Diz o que pensa e ela pensa tudo o que diz pela sua cabeça. Sabe, então, do que fala porque a sua experiência vale alguma coisa.
Numa época em que nos deliciámos com o novo é, afinal, na sabedoria dos “velhos” que estão, quiçá, as soluções e é nas palavras dos “velhos” que, porventura, se encontra o caminho. Talvez ainda, nos momentos de crise (social, económica, existencial), a política seja igual à literatura como eu quase sempre a vejo: procuramos os “velhos” porque eles, melhor que ninguém, compreendem a vida e sabem o que é a vida em todos os seus dramas e dimensões. E nesse enquadramento, é-me impossível ouvir estas palavras da senhora e não pensar que há toda uma diferença entre um livro imaginado para a vida e um livro idealizado para as salas de aeroporto.


publicado por Bruno Miguel Macedo às 11:25 | link do post | comentar

Quarta-feira, 12 de Setembro de 2012

A política doméstica, cada vez menos importante e cada vez mais executada por gentinha menor, continua a viver da intriga palaciana. O que aqui está, esta notícia feita para a comunicação social, é um sinónimo evidente de que numa reunião à porta fechada ninguém se encontra seguro e que tudo se sabe em tempo real para gáudio da humanidade. Naturalmente que se conta também o que interessa e que se esquece, provavelmente, o que não interessa. Há muito, muito tempo, um escorpião precisava de atravessar o rio. Pediu ajuda a um sapo que, desconfiado, esteve para recusar. O resto da fábula, da história, todos conhecem e sabem como termina. Na verdade, este espírito de divisão onde alguns só querem safar o pescoço ao mesmo tempo que tentam apagar a memória do passado (Onde está o “patriotismo”? Onde está a lealdade? Onde está a cumplicidade?) ilustra que agora só muito dificilmente se aguentará este barco. E sendo assim, tal como na fábula, nenhum deles chegará ao outro lado do rio.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 15:30 | link do post | comentar

Quinta-feira, 6 de Setembro de 2012

Bem pode o ministro Relvas fazer de conta, agora, que voltou a existir, depois de um ligeiro desterro por terras estrangeiras. Infelizmente para ele, já todos percebemos uma coisa: ele é politicamente relevante dentro do governo, mas totalmente irrelevante fora dele.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 11:50 | link do post | comentar

Segunda-feira, 3 de Setembro de 2012

 

A nova versão do Secret Story, de Teresa Guilherme, garante já ter mais de oitenta mil inscritos. O feito já teria contornos de gravidade se tivesse quinhentas alminhas dispostas à figurinha do costume (geralmente assente num adolescente mal-educado, porco e bronco). Mas ter oitenta mil merece, não só o estatuto de epidemia, como também um muito provável estudo sociológico.

 

Na verdade, quando oitenta mil portugueses estão disponíveis para vender a alma, quais Faustos, ao Diabo, exibir uns grunhidos cavernosos parecidos com linguagem e satisfazer o voyeurismo de milhões de outros, há uma clara certeza de que nenhum deles entende o seu triste papel e muito menos de que entende a função circense para que é manipuladoramente escolhido.

 

Neste momento em que escrevo, não dispensava apenas a RTP que me esvazia os bolsos à razão de 340 milhões de euros/ano. Dispensava também as restantes que a troco comercial desenvolvem um retrato esclerosado de um país cultural e socialmente arruinado, alimentado por patetas que se deixam voluntariamente fechar numa casa. E investia, por atacado, num manicómio. Que para o caso em apreço tinha de ter pelo menos oitenta mil lugares disponíveis e de permitir a visita alternada de milhões de outros. Como é óbvio, seria absolutamente obrigatório alimentar os animaizinhos em exibição.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 16:56 | link do post | comentar

 

 

Talvez hoje, a imagem mais definidora do povo português seja a imagem de Sísifo acartando a pedra montanha acima para depois vê-la, arrastada, montanha abaixo. E uma vez, e duas vezes, e três vezes, e para todo o sempre. Ó deuses: como vos poderemos apaziguar?

 



publicado por Bruno Miguel Macedo às 16:38 | link do post | comentar

Publius Cornelius Tacitus
To ravage, to slaughter, to usurp under false titles, they call empire; and where they made a desert, they call it peace.
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