Terça-feira, 18 de Dezembro de 2012

 

A conjuntura difícil permite que a demagogia ganhe terreno e se traduza em absurdos sem um mínimo de investigação que deite por terra afirmações deste calibre. Por certo, basta ir à conferência de imprensa e escrever o que diz o líder do PCP porque isso faz logo uma caixa ou uma manchete. É fácil bradar contra o mundo, contra a vida, contra a tróica, contra a crise, contra os políticos. Mas já não é tão fácil apresentar soluções contra essas mesmas lógicas que não passem de lugares-comuns absurdos, que não são apenas inverosímeis, são também um exercício de autoritarismo dogmático e pusilânime.

A demagogia presente no discurso político vai continuar a fazer mossa porque é mais fácil acreditar num vendedor de sonhos que nunca prestou contas, do que verdadeiramente assumir a responsabilidade de governar numa situação de crise. Reparem bem no discurso ideológico de quem sabe a cartilha toda, mas que também sabe da coisa como se ainda vivesse preso algures nos anos 60 do século passado e numa Europa que se recusava ver o que acontecia do outro lado da cortina. Há coisas que nunca mudam. Mas se a saída é enterrar tudo de vez e fazer de Portugal não uma Grécia, mas uma possível Albânia, então penso que não é preciso ir muito mais longe. O PCP e o Sr. Jerónimo servem, na perfeição, para resolver este assunto.



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Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2012

 

Descobri Adrian Goldsworthy através da monumental biografia que escreveu sobre César e, depois, com esse livrinho obrigatório sobre “O Fim do Império Romano” que tinha adquirido antes, mas ao qual não tinha prestado atenção suficiente. Ser comprador (e, já agora, também leitor) de livros tem este problema: as listas de espera acumulam-se e não é certo que elas algum dia cheguem ao fim, até porque as listas, estranhamente (ou talvez não), nunca diminuem. Agora chegou-me às mãos este que aborda a vida periclitante de uma personagem que continua a encher o nosso imaginário colectivo de banalidades, frugalidades e mentiras – Cleópatra – e do seu último amante – Marco António – que da vida se despediu com ela, depois da inapelável derrota às mãos de Augusto, uma tragédia imortalizada por Shakespeare.

Reconheça-se que escrever História – e nomeadamente sobre factos que aconteceram há mais de dois mil anos – não é um exercício fácil e, muito menos, um exercício meramente imaginativo como, por vezes, os ditos romances “históricos” e a ausência de fontes credíveis parecem promover. E que deitar por terra mitos há muito instituídos como parte de uma verdade "absolutizada" não é para todos. Daí haver neste autor algo que nos prende e que tem que ver com uma escrita escorreita e competente onde não faltam pormenores sublimes e umas justas chamadas de atenção. E se a História hoje é a minha grande paixão (muito mais que a Sociologia, a Política ou o bridge) muito devo a autores desta grandeza que me ajudam a alimentar este estranho bichinho da curiosidade que não tem fim.



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A democracia mediática, sujeita ao escrutínio público permanente e às sondagens constantes, diz-nos que o Dr. Seguro é já o político preferido dos portugueses, em caso de eleições, e que a esquerda é maioritária num país onde ser governado com políticas socialistas é uma “saída” com 38 anos de história e uma dissertação primorosa sobre a nossa derrocada. Parte do nosso problema reside neste inevitável estímulo comunicacional onde menos de dois anos depois de um governo eleito por maioria (liberal ou neoliberal, diziam eles), nos propomos baralhar de novo. Por certo, esta audácia do Dr. Seguro que se limita a falar de um país imaginário e para gente que vive numa realidade paralela, vale muitos votos e muitos adeptos, ainda que muitos desses votos e muitos desses adeptos se esqueçam da tragicomédia encomendada pelo Eng.º Sócrates e seus sequazes. Contudo, de quando em vez, seria bom que certa gente descesse do pedestal para andar a meio da realidade já que os problemas não desaparecerão por obra de uma varredela para debaixo do tapete porque o entulho lá colocado já não deixa margem para grande disfarce. A vida merece e merecia melhor, é certo. Mas desejar o Dr. Seguro para timoneiro deste barco é o mesmo que metê-lo no olho da borrasca.



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Olhemos a realidade com olhos de ver. No beco sem saída onde, não aparentemente, nos encontramos, o mais difícil é ver uma luz de esperança que nos dê alento. Mas é indispensável não ficarmos quietos à espera de um qualquer milagre que nos salve, uma vez mais, do buraco onde nos metemos por culpa própria. Num momento periclitante, atente-se à coragem dos que se propõem abanar os alicerces que instituíram regalias impossíveis de pagar e direitos impossíveis de manter. A vida seguramente é complicada e difícil, mas a cobro da hipoteca das novas gerações – dos que ainda não nasceram e dos que ainda não podem votar e que por isso não podem escolher – não podemos manter um Estado Social que não é sustentável e, muito menos, continuar a hipotecar o futuro sem mexer no nosso presente, à conta de sucessivos aumentos de impostos e do roubo instituído aos salários dos cidadãos e aos lucros das empresas. Não é preciso ser-se economista para se saber que desse modo não chegaremos lá. Por mais que se esbraceje, pior é querer manter tudo igual como se fosse plausível manter tudo igual. Não o é. Entre salvar o que é possível e querer manter o impossível, julgo, por mais que doe e custe, não haver grande margem de escolha. Devemos isso a nós próprios e a todos aqueles que ainda estão por vir.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 10:59 | link do post | comentar

Percorro os jornais à procura de algo com interesse. Para além da alcoveitirice instituída e dos recados enviados com destinatário certo ou incerto, há ali muito pouco que me atraia, exceptuando um ou outro suplemento e um ou outro artigo de opinião, que selecciono com rigor. Sabemos hoje que os órgãos de informação, principalmente os jornais, andam pelas ruas da amargura, fruto, dizem os entendidos, da crise, da conjuntura, da quebra publicitária, da concorrência, da globalização, das novas tecnologias. Talvez isso tenha razão de ser, mas julgo não ser suficiente. É preciso ir mais longe. E ir mais longe implica ir até à linha em que o verdadeiro jornalismo se quebrou e foi substituído pelo jornalismo que matraqueia apenas ideias feitas e que se dedica aos ódios de estimação, estimulando a vulgar intriga de bordel. Isto levou a uma perda da sua qualidade, agravada com as centenas de analfabetos que no entretanto chegaram às redacções e pelas lógicas mercantilistas que invadiram as direcções e que personificam as relações perigosas entre os detentores dos títulos e os pagadores e financiadores de publicidade. Tudo se conjugou para um desastre anunciado. Não é, então, só um problema de falta de vendas ou de leitores, que é evidente e existente, e não é só um problema de falta de publicidade e de receitas, que também julgo ser verdadeiro: há um declínio acentuado da qualidade jornalística que ajuda a arrastar tudo o resto pela perda notória de credibilidade. E o inacreditável é que tendência é piorar; não melhorar.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 09:56 | link do post | comentar

Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2012

 

Nas minhas deambulações pelas livrarias, são muitos os livros que toco, que sinto, que cheiro. Adoro estar no meio dos livros, nessa liberdade possível que é a imaginação que os outros escrevem, ou que é o sonho que outros me propõem, ou que é ainda a "realidade" possível que encontro. Foi assim que descobri Isherwood, quase por acaso, perdido numa pilha metida num canto, como que a chamar por mim. Engracei com o título, sentei-me num dos cadeirões e comecei a lê-lo. “Mister Norris muda de comboio” fala-nos de Berlim e da mudança abespinhada que a subida dos nazis ao poder encetaram numa sociedade outrora livre. E fala-nos da amizade, esse sentimento tão poderoso, surgida entre dois homens do quase nada de um encontro casual dentro de um comboio e dessa viagem alucinante até às catacumbas de uma sociedade onde a decadência moral estava instituída e era um prato servido muito quente. A escrita simples sempre me fascinou. A escrita simples que me mostra como o mundo pode mudar de um dia para outro, seja numa sociedade moderna habituada à liberdade, seja na amizade entre dois homens que se respeitam, ainda mais. Naquela Berlim do início dos anos 30 algo aconteceu que fez um mundo inteiro ruir. Não foi só uma sociedade que mudou; foi a Humanidade, por arrasto, que se viu perante as  monstruosidades de um apocalipse indescritível. Quando vejo tanta gente gritar contra a democracia que temos, sei, não por experiência vivida, que num ápice, tudo se pode esvair. E que também num repente, homens fardados se propõem marchar nas ruas à procura dos diferentes. E que nem a amizade, por vezes, resiste a essa necessidade intrínseca de sobreviver, porque no desespero todo homem é imprevisível nos seus actos.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 11:21 | link do post | comentar

Não tenho pretensões de ser coerente no que escrevo. Bem sei que muitos vivem obcecados com a coerência e com o medo de serem apanhados em contradição. Eu não me importo. Dentro da coerência que tento seguir, sei perfeitamente a incoerência dos meus pensamentos e dos sentimentos que experimento. Não é relevante. Não sou nenhum pensador. Não sou nenhum intelectual. Vivo a vida como uma enorme experiência e como tal sei que a não contradição é impossível. E embora ache notável que se fique agarrado a um conjunto de princípios, também acho notável que se jogue rapidamente os princípios no caixote do lixo, ao sabor dos humores ou dos amuos. A volatilidade da vida encerra esse mistério. A busca incessante pelas respostas, gera ainda mais perguntas que curiosamente não nos deixam mais felizes ou contentes, logo não nos dão grande margem para a tal coerência que nos exigem. E o drama interior, se ganha proporções bíblicas, é criterioso na sua selecção. Conseguimos ultrapassar o que não conseguimos compreender? Certamente. Ainda hoje sei que as grandes perguntas da vida são aquelas que, por mais que leia e reflicta, nunca vejo respondidas, mas também sei que basta uma rabanada de vento para mudar o sentido de todas as respostas que entretanto encontrei.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 11:14 | link do post | comentar

Terça-feira, 11 de Dezembro de 2012

Não costumo concordar com o Prof. Marcelo, um especialista de alcova da política portuguesa, mas desta vez não tenho qualquer dúvida de que ele tem razão: um apoio desta natureza só pode querer dizer que o PSD quer mesmo perder aquela câmara com o objectivo de deixar o Dr. Costa sossegadinho no seu lugar, não vá ele querer entrar noutros voos.

Ainda há dias falava-se na eventual candidatura de Seara ao Parlamento Europeu como troca por este servicinho ao partido. Se isto é ou não é verdade, e eu até não gosto muito de especulações desnecessárias, o tempo o dirá. Mas não há dúvida de que o Dr. Seara, reúne os requisitos necessários para esta estratégia: é um nome com algum peso e que traz consenso, promete luta, mas não incomoda o passeio previsto para os lados rivais. Na verdade, com um vencedor antecipado, Lisboa e os lisboetas não darão muito pela campanha em tempo de vacas magras. Mesmo que o Dr. Relvas se proponha ir bater a todas as portas e correndo o risco sério de não ver abrir nenhuma, o Dr. Costa merece os lisboetas e os lisboetas merecem o Dr. Costa.



publicado por Bruno Miguel Macedo às 16:52 | link do post | comentar

Segunda-feira, 10 de Dezembro de 2012

Eu não sei se o suicídio derivou apenas do telefonema feito por estes dois “animadores de rádio”, se o telefonema foi o rude culminar de um caminho sem retorno ou se o telefonema nada teve que ver com o lamentável desfecho. Mas esta imperiosa necessidade de querer dar nas vistas, de se querer ser mais engraçado do que os outros, combina mal com as vidas daqueles que não desejam a exposição mediática e que querem viver, em paz e sossego, o seu quotidiano. Numa sociedade assente no espectáculo feito quase exclusivamente com o intuito de divertir a qualquer custo, não se estranhe que as coisas por vezes vão muito para além do esperado. E se é verdade que no momento da brincadeira toda a gente ri, também é verdade que quando a coisa termina mal toda a gente lamenta, revelando na perfeição a nossa mais absurda hipocrisia.
A vida não é uma piada: a vida é séria e custa, a muitos, ser vivida com dignidade e hombridade. Hoje, que se chora sobre o leite derramado umas eventuais lágrimas de crocodilo, o humor, ressalve-se, não deve ser coarctado para além dos limites impostos pelo bom senso. Ainda que, como se atesta, o bom senso não seja coisa que por aí abunde.



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Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2012

Quando era novo, não sabia bem o que queria ser na vida. Houve tempos em que julguei que a advocacia me ficaria bem. Noutros, via-me no papel de gestor ou de economista. Houve alturas, em que gostava de ser escritor de policiais por causa da Agatha Christie. Nunca quis ser astronauta, futebolista, piloto de qualquer coisa ou gente famosa da música, das artes ou do cinema. Fui normal nos meus desejos, embora sempre muito inconstante nas minhas paixões. Quando olho para trás pergunto-me sempre o que faria diferente. As respostas não variam nada: se estou bem no momento, penso que fiz tudo bem; se estou mal no momento, penso que fiz tudo mal. A vida é feita, então, de escolhas. Não temos uma segunda hipótese ou a possibilidade de voltar atrás depois de escolher um dos caminhos, embora estejam sempre a dizer-nos que podemos corrigir as coisas. Talvez seja isso que nos marque: essa dúvida que nos descontrola, essas incertezas que nos invadem, apenas compensadas pelos momentos lúcidos e transparentes. E se isto? E se aquilo? Neste desespero, uma única certeza: enlouquecer não deve ser difícil.



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Quarta-feira, 5 de Dezembro de 2012

Julgo que não há presente. Apenas há passado e futuro, porque o presente, quando acontece, é já passado e quando está para acontecer, ainda é futuro. Acabo com esta questão tridimensional de uma assentada e resolvo poupar 33% das minhas chatices. Pensando nisto, sei que a linha do tempo sendo contínua e inexorável, implica torná-la mais simples ainda que não simplista. Despindo esse preconceito do corpo, vejo no entanto que esta simplicidade não me é suficiente. No limite, nenhum homem gosta de simplificar o que pode complicar. Se a vida fosse simples, talvez isto não isto não tivesse tanta piada.



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Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2012

Greene ensinou-me que só traímos por amor. Por amor a alguém, por amor à pátria, por amor ao dinheiro, por amor à vida, por amor ao risco, por amor a uma causa. A traição é um sentimento poderoso porque sabemos de antemão que ele é errado. Se sentimos que traímos, sabemos que fizemos mal. É então que procuramos as justificações interiores que nos acalmem a culpa e minimizem os remorsos. Porque trair implica enganar alguém ou algo de quem ou de que se gosta, o que pode ter consequências. A traição pode ser consequência de um sentimento que cresce ou de uma oportunidade que aparece. O que me leva a ter a certeza de que Greene tinha toda a razão: se há algo que nos leva a trair, esse algo tem que ver com o amor. Ainda que num limite seja mesmo o amor indecoroso que muitas vezes sentimos por nós próprios.



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Domingo, 2 de Dezembro de 2012

Dou por mim pensando que a nossa vida colectiva seria bem mais simples se não existisse tanta tramóia jornaleira e intriga política. Tenho a noção que o dever é uma coisa séria, honrosa e que quando se assume algum cargo político e de natureza pública que o mesmo, se implica direitos, implica deveres. Não entendo portanto, como o jornalismo se deixa conspurcar pela quezília pessoal, pelo protagonismo fácil, denotando, ele próprio, a falta de carácter que condena nos outros. Chegamos onde chegamos por força das circunstâncias em que uns põem à frente dos destinos colectivos, o seu interesse individual. Todos lucram: os que fomentam a intriga e os que espalham a intriga. Então, que ninguém se ponha depois de fora. O que leio hoje nos jornais, é puro divertimento que não levo a sério mas, e ao mesmo tempo, também é um tratado notável sobre a nossa decadência.



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Publius Cornelius Tacitus
To ravage, to slaughter, to usurp under false titles, they call empire; and where they made a desert, they call it peace.
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