Só os distraídos acordaram hoje. Olhasse ele para os jornais que diariamente se publicam neste país e já há muito teria a percepção que a comunicação social só sobrevive de casos do dia e de intriga política de variada índole. Aliás, o próprio covil do Presidente também é pródigo nestes joguinhos em que a fonte anónima é rainha e senhora. No fundo, nada se perde, tudo se transforma. Ainda que para deixar ficar tudo exactamente igual ao que foi.
Infelizmente, este tipo de analogia é cada vez mais frequente e cada vez mais popular e popularucho. Mas é, primeiro que tudo, uma enorme ofensa a quem sofreu na pele a violência e o terror do nacional-socialismo. Comparar o incomparável, minimiza o Holocausto, ajuda a lançar poeira mas também, como acréscimo, descredibiliza o autor. É pena.
Para ajudar a abafar os falhanços sucessivos da governação, nada como aparecer vindo do além, um morto ressuscitado que fará a vez na televisão pública do Estado onde, garantem-me, já terá espaço para perorar sobre a nobre arte de deixar um país na miséria em 25 minutos semanais. Contudo, hoje ele começa com uma simples entrevista onde magnanimamente iniciará a sua tentativa de lavar uma imagem que desconfio seja demasiado nodosa para ter solução.
Não descortino o que gente do passado, tem para dizer sobre o presente ou sobre o presente que é consequência desse passado em que teve participação activa, ainda por cima, não por bons motivos. Mas depois da entrevista, virão as entrevistas à entrevista, onde a banalidade tomará conta da televisão e os comentadeiros de serviço se dividirão salomonicamente entre o apoio e a rejeição. Nós, infelizmente, conseguimos ser sempre tão politicamente correctos, que os comportamentos são tão previsíveis quanto assustadores. Um bom dia para não estar em casa, portanto.
Aproveitemos o momento televisivo de logo à noite: não é todos os dias que um ex-carrasco se apresenta perante as suas vítimas.
Conclusões sobre a notícia que vi sobre a contratação do "comentador" José Sócrates pela RTP:
1- O criminoso volta sempre ao local do crime.
2- O crime compensa.
3- Deixou de haver argumentos para que a RTP (e todos os seus derivados, incluindo rádios e agência noticiosa) não seja imediatamente vendida/dada/oferecida/privatizada (riscar o que não interessar).
O regime habitou-se a produzir esta casta de omnipresentes especialistas que gravitam no limbo à conta de “gloriosos” feitos passados. Os jornais e as televisões, que entram nesta intriga com renovado prazer, dão cobertura e palco a estas personagens que, com denodo e zelo, iluminam com sabedoria os dias cinzentos do mais comum dos mortais, mostrando, talvez com rigor, a razão de termos batido no fundo, com eles dentro ou com eles fora ou com eles assim-assim. Quase 40 anos depois da revolução, o regime mantém na berlinda os seus donos e a sapiência que traçou um inevitável destino. Reconheça-se, porém, que o pastoreio exige arte e admiradores. E que nós gostamos de ser pastoreados.
Os que tanto berram contra a presença de Miguel Relvas no governo, são quase os mesmos que rejubilam com o regresso de Jorge Coelho ao PS. O país está nos detalhes.
O regime, em avançado estado de decomposição, continua a produzir soluções de qualidade duvidosa e de dubiedade garantida. Na política estacionaram caciques, gente que nunca trabalhou, inúteis, carreiristas, oportunistas e outros que tais. Os partidos transformaram-se, portanto, em agências de empregos, e lutam diariamente pelos seus, como se fossem um sindicato. O líder sindical do PS, por exemplo, anda de norte a sul, a vociferar contra o mundo, julgando-se sério e original nas críticas. Começou pela Europa talvez pelo conforto de colocar longe o ónus do problema, falando em egoísmo como se a Europa, como está, fosse um mero aborrecimento centrado no egoísmo e não na substância. Claro que a coisa dá-lhe boa imprensa porque a caixa de ressonância emite o que gostamos de ouvir e não aquilo que precisamos de ouvir. Sendo assim, lá vai ele de norte a sul, em peregrinação eleitoral. Vale que 10 quilómetros de estrada devem bastar para demonstrar a inutilidade da caravana.
Um governo perdido, uma oposição a navegar à vista, eis um retrato fiel do que temos. Com avaliações troikianas ou sem elas, o problema mantém-se inalterado: como sobreviver ao momento, garantindo que ainda haverá um futuro? Ninguém sabe. Nem o governo falhando sucessivamente as suas previsões, nem a oposição atirando sistematicamente estrume ao ar. O que resta? Resta meia dúzia de luminárias que nas televisões vendem sucesso como quem vende champôs e sabonetes, escusando-se falar sobre o essencial. Não é só uma geração que está perdida. São todas as que ainda estão por vir, presas a um país que se recusa fazer alguma coisa que nos tire da miséria instituída e das garras de um Estado omnipotente, gastador e opressor. O resto, é fado.
Mal houve Papa, as televisões obrigaram-se a inundar a vista com programas onde comentadeiros torcidos e distorcidos lograram falar, naquele estilo faustoso em que se comenta tudo, incluindo o que não se sabe, sobre o Homem e esta nova “etapa”. Para alguns, há ali um sinal de esperança e de transformação da Igreja em qualquer coisa que não seria a Igreja e, claro está, as teorias redundantes do costume sobre a instituição, agora que o Santo Padre veio da Argentina e já tem o nome pela lama por causa da ditadura de lá. Não sei de onde sai esta vacuidade que é paga para falar e dizer asneiras na televisão. A ignorância sobre este assunto é atroz e, naturalmente, desmente-se a si própria. Até porque uma instituição com dois mil anos, não chegou ontem, nem veio para mudar já amanhã. Que alguns não percebam do que falam, aceita-se. Que alguns ainda recebam para emitir opinião sobre o que não sabem, deveria ser outra bem diferente. Triste país.
A adoração das adolescentes portuguesas por um adolescente americano, pouco mais que pateta e que canta música do mais pimba que há, é curiosa. E, para além de curiosa, essa adoração também explica muita coisa. Ora se explica.
A fúria que muitos diziam liberal, não passou disso mesmo. Porventura, nunca saiu do papel, apesar das melhorias num ou noutro campo, em que seria impossível (até pela imposição externa) não melhorar. Este assunto, de novo na ribalta, esclarece, contudo, que o governo nunca fez a mínima ideia do que pretendia fazer sobre ele, limitando-se a um contínuo e ininterrupto atirar de barro à parede, até apresentar, uma vez mais, qualquer coisa feita à pressa e em cima do joelho. Para mim, nunca houve dúvidas sobre o que estava em equação e sobre o que era melhor para a RTP e os portugueses. Independentemente da gente que vive agarrada ao mito do serviço público e do patriotismo saloio sem sentido, vender a RTP toda é (era?) a única solução. Um mês depois, garanto-vos, já ninguém daria pela diferença.
A Venezuela enquadra-se no tipo de democracia que um dia Fareed Zakaria catalogou de “iliberal” no seu extraordinário “O Futuro da Liberdade”. Concluo, portanto, que as manifestações de pesar pela morte de Chávez são, por um lado, genuínas e, por um outro lado, a suprema exibição da hipocrisia dos homens.
Uns certos privilegiados do Estado, nomeadamente os que trabalham no sector dos Transportes, julgam que são funcionários públicos diferentes de todos os restantes. É com esta ideia que passam o tempo no ócio e em greves, a gritar contra o mundo, como se a realidade em que vivemos fosse coisa de somenos importância e as suas consequências fossem apenas aplicadas aos outros. Julgam então que não podem ter cortes nos salários, nos subsídios, nem noutros privilégios onde curiosamente se encontram outros subsídios variados, horários reduzidos e estranhas benesses para familiares e amigos.
Creio que atingimos o limite da paciência para com esta gente: no Estado não pode vigorar um sistema de castas onde uns são mais do que outros. Da minha parte, e como solução, o Governo tem todo o meu apoio para acabar de vez com esta miséria instituída de uma de duas formas. Ou privatiza esta bandalheira toda que pouco serviço público faz e que não serve os interesses nacionais, ou despede uma boa meia dúzia que sirva de exemplo aos meliantes e instigadores profissionais. Por mim, tanto faz.
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