Rapaziada em idade para não ter ainda juízo, andou à bofetada e ao murro numa escola. O momento, captado por uma câmara de telemóvel e que mostra duas raparigas a bater num rapaz, corre por aí à velocidade da net e dessa singular nova capacidade humana de partilhar e exponenciar a “desgraça” alheia.
Não percebi ainda muito bem o drama, a não ser aquela parte que me esclarece exemplarmente sobre o modo como certas teorias pré-concebidas acerca do “bom selvagem”, caem rapidamente por terra, e sem grandes contemplações, ao mínimo abano.
E porquê? Porque qualquer um de nós sabe que sempre houve agressões entre alunos nas escolas. A única diferença que se nota entre o ontem (no meu tempo e noutros tempos) e o hoje (este tempo) é que, ontem, poucos viam, mas todos sabiam; e, hoje, todos vêem, mas fingem que não imaginavam.
Aqui se revela todo um programa sobre a natureza autoritária e absolutista do Estado que estamos a desenvolver, agora sob o beneplácito deste Director-Geral da Saúde, de nome Francisco George, um tipo que se julga no direito de subjugar liberdades individuais.
Notem que em nenhum momento do texto se considera sequer a possibilidade de perguntar às pessoas se querem fazer parte destas “notificações”, uma vez que elas já são consideradas “obrigatórias”.
Um dia, se continuarmos assim (e eu já não acredito que as coisas andem para trás porque o Estado se intromete de forma crescente em todos os domínios da esfera privada) a "notificação obrigatória" será também uma garantia para a bipolaridade, a caspa, a esquizofrenia, as alergias ao pólen, as doenças cardiovasculares, a miopia, o estigmatismo, as doenças do aparelho digestivo, o pé de atleta, as unhas encravadas, as micoses generalizadas, as doenças degenerativas, a gripe, a constipação, a tosse, a asma, a bronquite, o autismo, a obesidade, a anorexia, a bulimia, a hiperactividade, a anemia, a psoríase, a hipertensão, o escorbuto, a gota, a asma, a pneumonia, a depressão, a ansiedade e todo o tipo de outras doenças, raras ou não, incluindo uma nova que começo a sentir e que apelidei de “Alergia a Francisco George", também conhecida por AFG.
A partir de amanhã é “obrigatório” (gosto do modo como o Estado torna as coisas “obrigatórias”) escrever com as regras do novo acordo ortográfico. Como não concordo com a coisa, continuarei a escrever com as regras antigas. Pelo menos, até que o Estado se lembre de declarar multas e execuções sumárias e variadas – os funcionários dos impostos podem ter aqui mais uma fonte de receita – para os prevaricadores não-seguidores do acordo. Serei, portanto, um resistente: não vou usar “ótimo”, “ato” ou “veem” em circunstância alguma.
Mas peço, encarecidamente peço, a quem usar as novas regras, que o faça correctamente (esta palavra vai dar erro no word). Quando uma coisa é adoptada (esta também), então deve ser bem adaptada (esta não). Não é para fazer como aquele grande defensor do novo acordo que um dia escreveu, num artigo de opinião, que era apologista de um “pato de regime”.
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