
“Portugal vive hoje, sem dúvida, uma das horas mais graves, senão a mais grave, da sua História, pois nunca as perspectivas se apresentaram tão nebulosas como as que se deparam à geração actual. E não se julga necessário fundamentar esta afirmação em análise histórica mais detalhada do que aquela que nestas páginas apresentamos; pois nas crises do passado, atentas a situação mundial e as características demo-económicas das épocas em que se projectaram, jamais a essência da Na...ção, a segurança física e o bem-estar material de tantos dos seus cidadãos estiveram em tão grave risco como o estão no presente. As crises passadas foram, essencialmente, crises de independência política que comprometeram, é certo, o Estado Português na sua estrutura de poderes, sem que todavia estes deixassem de ser exercidos sob tendências coevas. Os grupos de pressão, quando surgiam, não se apoiavam na consciência colectiva, antes resultavam de ligações afectivas, tradições familiares, reminiscências de antigas clientelas, prevalência de ligações de inspiração feudal, ou tendências mítico-religiosas. O poder político, fortemente apoiado nos dogmas dinásticos, corporizava o Estado. E nessas crises, o que sempre esteve em causa foi exactamente esta arquitectura.” – António de Spínola, Portugal e o Futuro, pp 19-20, 1974. O que mudou em quarenta anos?