Alguém, certamente imbuído do espírito carnavalesco que se vive nesta época, propôs o nome de Donald Trump para Nobel da Paz. A justificação merecia um comentário, mas não é isso que importa para o momento até porque o mundo já consagrou Arafat, Obama, Jimmy Carter, Al Gore ou a União Europeia com este distinto galardão, sinais claros da decadência do prémio em si. Mas confesso que não deixo de rir.
A ferocidade pela atribuição de prémios para tudo e coisa nenhuma, elucida com primor o mundo de loucos em que vivemos. Há prémios para tudo o que se consiga imaginar, incluindo o que não se consegue. Não estar nomeado para nada, tornou-se a excepção e não a regra.
Com este caso não é muito diferente. Mas como todos sabemos que há aqui publicidade enganosa (foi apenas uma alminha anónima que o sugeriu), que ele não vai ganhar (não é da denominada esquerda caviar) e que o mundo continuará exactamente como está (depois de Arafat tudo é literalmente possível), também sabemos que Obama já ganhou o mesmo e que ninguém se riu, incluindo ele.
Sendo o que é, o Nobel da Paz vale mais pelo simbolismo do que pelo discurso de ocasião, estando cada vez mais parecido com o da literatura que com frequência nos brinda com ilustres anónimos que vêem as suas vendas disparar para números astronómicos devido, não a novos escritos, mas a novas encadernações. E a não ser que queiram ridicularizar definitivamente o assunto, Trump fica bem entre os potenciais nomeados: tem um discurso cómico, arrasta multidões e diz tudo o que pensa, mesmo que não pense grande coisa. No fundo, ninguém leva a sério: a ele e, por arrasto, o prémio.
Num ambiente orquestrado pelo politicamente correcto, note-se a ousadia de chamar para a festa o mais politicamente incorrecto dos seres que pululam no planeta. Talvez com um objectivo claro: tudo o que aparecer ao lado de Trump parecerá bem e talvez não faça notar a também inverossimilidade de certas figuras que por ali vão aterrar. Mas no fim das contas, este ano ninguém ganhará o prémio. É Donald que o vai perder. E nós, por solidariedade, também.
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